Contexto geoambiental do Serrote do Morrinho, em Sento Sé - BA, Brasil
Celito Kestering. Graduado em Filosofia, Psicologia e
Sociologia pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL, 1974);
Engenheiro Agrônomo pela Faculdade de
Agronomia do Médio São Francisco (FAMESF, 1980);
Especialista em Realidade Brasileira, pelo
Instituto Brasileiro de Desenvolvimento (IBRADES, 1981);
Mestre em Pré-História (2001) e doutor em
Arqueologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE, 2007); Professor
Adjunto 3 na Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF).
E-mail: celito.kestering@gmail.com; Fones:
(74) 3538 2454; (74) 9193 2507 e (89) 3582 3338.
Morgana Cavalcante Ribeiro. Universidad Bacharelanda em Arqueologia e Preservação
Patrimonial na Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF;
Bolsista do Programa de Iniciação Científica – PIBIC.
E-mail: ribeiromorgana24@yahoo.com.br;
Fones: (89) 9908 9913 e (89) 9400 3572.
RESUMO
O presente
trabalho objetiva relatar o início do estudo acerca do Serrote do Morrinho, em
Sento Sé – BA. É uma breve caracterização da área, com a descrição de
aspectos geológicos, geomorfológicos e ambientais, como pré-requisitos para o
estudo dos grafismos rupestres que existem no local. Quer-se desvendar o
contexto ambiental pré-histórico com o qual se relacionaram os seus autores. Informações
paleoclimáticas somadas à identificação de superposições e a distribuição
espacial das pinturas rupestres nas vertentes ajudam a situá-las na dimensão
temporal. Utilizam-se informações do banco de dados do Curso de Arqueologia e
Preservação Patrimonial, obtidas durante a execução do Projeto Caracterização e
Diagnóstico do Patrimônio Arqueológico do Médio São Francisco. Complementam-se
as informações com uma pesquisa de campo, quando se preenchem fichas cadastrais
e se faz o levantamento fotográfico das pinturas rupestres e do seu contexto.
Palavras-chave: Serrote do Morrinho. Contexto ambiental. Geologia.
Geomorfologia.
ABSTRACT
This paper aims to report the beginning of the
study about the Serrote Morrinho in
Sento Sé - BA. It is a brief characterization of the area, describing aspects
of geological, geomorphological and environmental, as prerequisites for the
study of rock art graphics that are in place. It want to unravel the
environmental context prehistoric with which the authors are related.
Paleoclimate information added to identify overlaps and spatial distribution of
rock paintings hillsides help to situate them in the time dimension. On use
information from the database of the Course of Archaeology and Heritage
Preservation, obtained during the execution of the Project Characterization and
Diagnostics Archaeological Heritage Middle São Francisco River. On complement
the information with a search field, when on fill out registration forms and
makes the photographic survey of rock art and its context.
Keywords: Serrote do Morrinho.
Environmental context. Geology.
Geomorphology.
O presente trabalho
objetiva iniciar um estudo acerca do Serrote do Morrinho, localizado próximo ao
povoado de Piçarrão, no município de Sento Sé – Bahia. É uma breve
caracterização da área, nos aspectos geológicos, geomorfológicos e ambientais,
como pré-requisitos para o estudo das pinturas rupestres que existem no local.
Quer-se contribuir na ampliação do conhecimento acerca dos sítios arqueológicos
da região do Submédio São Francisco e no reconhecimento da identidade dos
grupos pré-históricos que ocuparam a região. O estudo da área do Serrote do
Morrinho visa desvendar o contexto em que as pinturas rupestres foram feitas
para, em seguida, realizar uma análise com base nos parâmetros da
cognoscibilidade e da temática.
O estudo do ambiente ou do
contexto é fundamental para a Arqueologia. Contexto é uma trama espacial e
temporal que influencia a cultura. Ele promove caracteres específicos nos
artefatos e no conjunto de achados arqueológicos (BUTZER, 1984, p. 4). Além
disso, sugere os espaços que grupos pretéritos podiam ocupar para viver e
realizar rituais próprios de sua cultura. É por isso que os arqueólogos
empenham-se, sempre mais, em compreender o contexto do passado para identificar
atributos culturais resultantes da relação dos grupos com o ambiente (BAHN E
RENFREW, 1998, p. 241). Há que se considerar,
porém, que o meio ambiente é
dinâmico. É importante que o pesquisador tenha como referência essa dinâmica
quando analisa artefatos e vestígios arqueológicos.
O ambiente influenciou na
definição das temáticas das pinturas rupestres. Como parte do sistema de
comunicação, elas sofreram mudanças, em função da modificação dos conhecimentos
gerados pelo sistema cognitivo dos autores, diante das modificações da paisagem
com que se relacionavam.
O ambiente influenciou,
também, diretamente nas técnicas de realização que os grupos pré-históricos
utilizaram para representar as temáticas das pinturas rupestres. É por isso que
o estudo do contexto geológico, geomorfológico e ambiental das feições de
relevo onde elas foram realizadas faculta o reconhecimento de atributos da
identidade de seus autores. O reconhecimento de atributos da identidade dos
autores valida, por sua vez, a identificação do território que eles ocuparam.
Há que se observar, porém, a relatividade das proposições sobre o passado
porque ele não pode ser compreendido de forma ampla vez que os vestígios são
uma ínfima parte preservada de um dado período. Sua explicação e/ou
interpretação sempre será eivada de subjetividade porque sofre influência da
ideologia e/ou do paradigma do pesquisador. Mesmo assim, é possível reconhecer,
nos artefatos, atributos factuais de identidade. Neles podem ser identificados
gestos e comportamentos padronizados do processo de produção.
Identidade
é o arquétipo a partir do qual os indivíduos e os grupos sociais constroem a
idéia de quem são e estabelecem o padrão de relação com outros membros da
própria espécie e com o ambiente, para garantir a sobrevivência e sucesso
reprodutivo. Muitas espécies animais possuem atributos físicos que lhes bastam
para a sobrevivência. Outras, entre as quais os humanos, por serem despossuídas
de aptidões físicas vantajosas em relação às outras espécies e aos fenômenos
ambientais, precisam desenvolver técnicas e comportamentos padronizados para
suprir suas limitações (KESTERING, 2007, p. 20).
Rituais são comportamentos
padronizados. São ações regulares e repetitivas empregadas pelos grupos para a realização
de atividades técnicas e para a compensação das suas limitações físicas. Compensam-nas
na relação com a paisagem e com outros grupos. É por isso que a busca pelo
reconhecimento da identidade dos grupos pré-históricos que deixaram as marcas
de sua presença em um determinado lugar e em um determinado período deve ser
feita a partir do estudo do contexto ambiental. No processo de realização dos
artefatos ou qualquer registro humano, os padrões motores dos indivíduos
produzem marcas que se conservam e permitem o reconhecimento de atributos que
definem a sua identidade.
Este trabalho contou com a
utilização das informações do banco de dados do Projeto Caracterização e
Diagnóstico do Patrimônio Arqueológico do Médio São Francisco, realizado por
professores e estudantes do Curso de Arqueologia e Preservação da Universidade
Federal do Vale do São Francisco - UNIVASF, no período de 2008 a 2011. Ampliou-se
o quadro de informações com uma nova prospecção no mês de novembro de 2012.
Esta abrangeu toda a área do Serrote do Morrinho, bem como do seu entorno
próximo onde se fez uma varredura de superfície, com observação acurada para
averiguar se havia outros painéis de pintura rupestre, bem como outros
artefatos históricos e pré-históricos.
Contou-se com a bibliografia
disponível acerca do tema tratado (geologia local e pinturas rupestres), além
do software GIMP Portable, dos
programas COREL DRAW e FOTO PAINT, para a adaptação de fotos e do mapa da
geologia local que pudesse facilitar a pesquisa arqueológica.
2. LOCALIZAÇÃO
Nº.
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Zona
|
UTML
|
UTMN
|
Altitude
|
Local
|
01
|
24
|
263166
|
8916499
|
451
m
|
Lado oeste
|
02
|
24
|
263321
|
8916643
|
454
m
|
Lado norte
|
03
|
24
|
263524
|
8916575
|
459
m
|
Lado nordeste
|
04
|
24
|
263539
|
8916378
|
473
m
|
Lado sudeste
|
05
|
24
|
263231
|
8916272
|
474
m
|
Lado sudoeste
|
Tabela 1- Coordenadas dos ângulos do
perímetro do Serrote do Morrinho
(Fonte: Kestering, 2011, p. 142)
|
Figura
1 – Ângulos do perímetro da área (Fonte: Kestering, 2011, p. 142)
|
No mês de novembro de 2012, retornou-se ao local para complementar
as informações com a realização de uma prospecção mais acurada no serrote e nas
adjacências. Observou-se que o Serrote do Morrinho situa-se
a 8 km ao sul da rodovia BA-210, a 11 km da borda do Lago de Sobradinho e a 22
km da margem direita do antigo leito do Rio São Francisco. Localiza-se a
sudeste da ilha de Urucé e da antiga cidade de Sento Sé, hoje inundadas pelo
lago artificial. Está a, aproximadamente, 7 km do povoado de Piçarrão, a 58 km
da cidade de Sobradinho e a 100 km da atual sede do Município de Sento Sé (Fig.
2).
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Figura 2 – Localização do Serrote do Morrinho
(Fonte: Google Earth, 2013, modifico pelos autores)
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A menos de 300 m do Serrote do Morrinho reside o Sr. José
Manuel Custódio (Fig. 3). O Sr. José Manoel tem 83 anos de idade. Informou que os
primeiros moradores da antiga Fazenda Morrinho foram os membros da família de
Feliciano. Eles criavam animais domésticos e plantavam mandioca, milho e
feijão. Disse que, até onde se tem lembrança, foi “lá pelos anos de 1800”.
Relatou que a casa de Feliciano era de taipa. Lembrou que, depois de Feliciano,
muita gente passou a morar no lugar, formando um pequeno povoado. Acrescentou
que, em meados de 1980, por ocasião da eleição de Quinzinho, foram todos embora.
Ele ficou só no Serrote do Morrinho. Finalizou dizendo: “Só saio daqui, morto!”
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Figura 3 –
Sr. José Manuel Custódio, 83 anos.
(Foto: Acervo pessoal dos autores)
|
O Sr. José Manuel Custódio nasceu em seis de janeiro de
1929. É filho de José Bernardino Custódio, que morreu em 1937, e de Isabel Maria
de Jesus. É impressionante o seu apego com a terra, mesmo depois de todos terem
ido embora. Contou que, junto ao
serrote, ele encontrou duas machadinhas, “pedras de corisco”. Infelizmente,
esses artefatos pré-históricos não estavam mais na sua casa. Um deles foi
levado para o estado de São Paulo por uma pessoa de sua família e o outro está
no povoado de Piri, município de Sento Sé, onde mora a sua esposa.
Percebendo o interesse da equipe pelo assunto, Manoel
mostrou uma base de pilão e um percutor (Fig. 4) que disse ter encontrado
próximo ao olho d’água do Serrote do Morrinho. Informou que os guarda desde a
sua juventude e que os utiliza para amassar tempero. No canto de sua casa há um
fragmento de pilão que ele disse ter encontrado também, próximo ao olho d’Água
do Serrote (Fig. 5).
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Figura 4 - Pilão
e percutor ainda utilizados
(Foto: Acervo pessoal dos autores) |
|
Figura 5 –
Fragmento de uma base de pilão
(Foto: Acervo pessoal dos autores)
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A reutilização de artefatos pré-históricos por
populações atuais reforça a hipótese da continuidade de costumes e de práticas
milenares dos tapuias que ocuparam a região. É muito provável que os índios não
foram exterminados como propõe a historiografia oficial. Relegando a sua
identidade étnica, eles devem ter sobrevivido física e culturalmente,
negociando com os colonizadores europeus o seu espaço nas lides agrícolas e
pecuárias. Miscigenaram-se e fizeram-se vaqueiros, sem abandonarem as crenças,
os rituais e as práticas milenares da caça, da pesca, da coleta e da
agricultura de subsistência. Preservam tradições indígenas como o hábito dormir
na rede e reverenciar a Juacema e o Caipora. As casas de farinha, de onde sai o
produto manufaturado para a confecção de beijus, papas, mingaus, bolos de puba,
bolos de macaxeira, tapioca e paçoca, continuam tendo os mesmos caracteres da
pré-história de Sento Sé. É possível que o Sr. José Manoel Custódio seja um
autêntico descendente dos grupos pré-históricos que deixaram impressos no
Serrote do Morrinho, sinais do sistema de comunicação que ele, assim como os
arqueólogos, não sabe decifrar porque não lhes foram repassados os códigos.
Na cozinha do Sr, José Manoel a água retirada da fonte, junto
ao serrote é armazenada em vasos de cerâmica e grés (Fig. 6 e 7). Como ele, a
maioria das famílias dos povoados do município de Sento Sé conserva essa
tradição desde tempos imemoriais.
|
Figura 6 –
Vasos de cerâmica e grés onde se armazena água
(Foto: Acervo pessoal dos
autores)
|
|
Figura 7 – Vaso de cerâmica usado
para armazenar água
(Foto: Acervo pessoal dos autores)
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4. CONTEXTO
GEOAMBIENTAL
O objetivo primordial de
uma prospecção arqueológica é compreender como os povos pretéritos
relacionaram-se com o espaço e a paisagem (BICHO, 2006). No estudo da área do
Serrote do Morrinho procurou-se desvendar o contexto em que as pinturas rupestres
foram feitas.
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Figura
8 – Contexto geológico do Serrote do Morrinho
(Fonte: Angelim, 1997,
modificado pelos autores) |
3
.2 VEGETAÇÃO
A vegetação do entorno do serrote é a caatinga arbórea, constituída
por espécies como Pereiro (Platycyamus regnellii); Marmeleiro
(Cydonia vulgaris); Jurema (Mimosa tenuiflora); Coroa de frade (Melocactus
bahiensis); Umbuzeiro (Spondias tuberosa); Umburana
de Cambão (Commiphora Leptophloeos); Xiquexique (Cephalocereux gounellei); Mandacaru
facheiro (Pilosocereus pachycladus); Angelim (Hymenolobium
petraeum); Mandacaru de boi (Cereus jamacaru); Capoteiro (Sterculia
speciosa); Maniçoba (Manihot sp.); Cansanção (Cnidoscolus
vitifolius); Alecrim (Rosmarinus officinalis); Miroró
(Bauhinia forficata), Pinhão roxo (Jatropha curcas); Juazeiro (Zizyphus
joazeiro); Baraúna (Chinopsis brasiliensis); Aroeira-do-Sertão (Myracrodruon Urundeuva); Catingueira (Caesalpinia pyramidalis); Pereiro (Aspidosperma pyrifolium); Macambira (Bromelia laciniosa); Caroá (Neoglaziovia Variegata) e Cana fístula (Peltophorum dubium). Junto ao
afloramento rochoso do serrote predomina o Angico (Anadenanthera macrocarpa) e a Favela (Cnidoscolus phyllacanthus) (Fig. 9).
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Figura 9
– Predominância de angico e favela
(Foto: Acervo pessoal dos autores)
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3.3 FAUNA
A fauna silvestre mais comum é constituída por insetos
como o cupim (Crytotermes brevis), a formiga (Formicidae sp.) e a abelha (Apis mellifera); pássaros como a
rolinha fogo apagou (Scardafella squammata), a jandaia
(Aratinga solstitialis), o cancã (Cyanocorax
cyanopogon, o carcará (Polyborus
plancus), o gavião (Mivalgo chimachima), o sofrê
(Icterus jamaicaii), o bentevi (Pitangus sulphuratus), o anum preto (Crotophagfa ani), o canário da terra (Sicalis flaveola), o casaca de couro (Pseudoseisura cristata), a coruja
buraqueira (Speotyto cunicularia), o
João-de-barro (Furnarius rufus), a
asa branca (Patagioenas picazuro), o
galo de campina (Paroaria dominicana)
e a juriti (Leptotila verreauxi); roedores como o mocó (Kerodon
rupestris) e o preá (Cavia
aperea); tatus como o peba (Euphractus sexcintus), o tatu
– bola (Tolypeutes tricinctus); outros
mamíferos como o saruê (Didelphis aurita); cobras como a jararaca (Bothrops jararaca), a jibóia (Boa
constrictor), a cascavel (Crotalus durissus), a coral (Micrurus
ibiboboca), a cipó bicuda (Oxybelis
aeneus), a cipó verde (Philodryas
aestivus) e lagartos como a iguana (Iguana
iguana), a lagartixa (Phyllopezus
policaris) e o calango de lajedo (Cnemidophorus ocellifer).
A fauna doméstica é representada pelo carneiro (Ovis
aries), o bode (Capra hircus), o cavalo (Equus
caballus), o burro (Equus asinus), o jumento (Equus africanus), o porco (Sus domesticus), o boi zebu (Bos indicus) e boi europeu (Bos
taurus).
3
.4 RECURSOS HÍDRICOS
Próximo ao serrote há uma fonte de água potável. Dela se
serve o Sr. José Manoel Custódio e utiliza-a para dessedentação dos animais
domésticos (Fig. 10). A água da fonte costuma estar coberta por uma camada de
aguapé nativo (Eichhornia sp.) cujo sistema radicular agrega os
colóides de argila em suspensão, filtrando-a (Fig. 11). O aguapé conserva a
água cristalina e gelada mesmo quando a temperatura do ambiente é quente.
Não é de todo impossível que o costume de manter a
vegetação na água foi ensinado pelos índios aos portugueses. Para retirar a
água da fonte, afasta-se a camada de aguapé com o próprio recipiente que se
utiliza para encher a vasilha (Fig. 12). Junto a essa fonte que é cercada para os
animais domésticos não invadirem, há um solo pleistocênico compacto, chamado na
região de arrecife ou piçarra (Fig. 13). Segundo relatos, o volume da água da
fonte é sempre o mesmo. Somente em 1932, por ocasião da grande seca, diminuiu
um pouco o seu nível.
A fonte localiza-se no leito de um pequeno afluente do
Riacho do São Peregrino, nas coordenadas UTM24L 263297, UTMN 8916360, a 459 m
de altitude.
|
Figura 10
– Fonte permanente de água potável
(Foto: Acervo pessoal dos autores)
|
|
Figura 11
– Aguapé nativo cobre a superfície da água
(Foto: Acervo pessoal dos
autores) |
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Figura 12
– Com o recipiente de coletar água, afasta-se o aguapé
(Foto: Acervo
pessoal dos autores)
|
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Figura 13
– Piçarra do entorno da fonte de água
(Foto: Acervo pessoal dos autores)
|
3. ATIVIDADES
DESENVOLVIDAS
4. RESULTADOS
Identificaram-se três sítios arqueológicos, caracterizados
como Morrinho 1 – 028.1; Morrinho 2 – 028.2 e Morrinho 3 - 028.3
(Fig. 14).
|
Figura 14 – Sítios
arqueológicos identificados.
(Fonte: Google Earth, 2013, modificado pelos
autores)
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4.1 MORRINHO
1 – 028.1
O sítio Morrinho 1 – 028.1 é multicomponencial.
Mede 450 m por 300 m. Possui orientação nordeste - sudoeste. Localiza-se nas
coordenadas UTM24L 263325, UTMN 8916386, a 461 m de altitude. É um lugar plano,
com solo arenoso e vegetação rala. Nele houve uma roça onde se plantava
mandioca, feijão, melancia e milho. Encontraram-se artefatos pré-históricos
como uma base de pilão (Fig. 7) e um núcleo de quartzito (Fig. 8) e históricos
como fragmentos de louça, de cerâmica, de vidro e de metal (Fig. 15 a 21).
|
Figura 15 – Artefato pré-histórico (base de
pilão)
(Foto: Acervo pessoal dos autores)
|
|
Figura 16 – Artefato pré-histórico (núcleo de
quartzito)
(Foto: Acervo pessoal dos autores)
|
|
Figura 17 – Artefato histórico (fragmento de
louça)
(Foto: Acervo pessoal dos autores)
|
|
Figura 18 – Artefato histórico (fragmento de
cerâmica)
(Foto: Acervo pessoal dos autores)
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Figura 19 – Artefato histórico (fragmento de
vidro)
(Foto: Acervo pessoal dos autores)
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|
Figura 20 – Artefato histórico (fragmento de
vidro)
(Foto: Acervo pessoal dos autores)
|
|
Figura 21 – Artefato histórico (fragmento de
metal)
(Foto: Acervo pessoal dos autores)
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4.2 MORRINHO 2 – 028.2
O sítio arqueológico Morrinho 2 – 028.2 é
constituído de um afloramento de metagranito porfirítico de regime
transcorrente da Tectogênese Transamazônica em que se esculpiu e/ou se utilizou
uma base fixa de pilão (Fig. 22). Sua orientação é nordeste - sudoeste, com
abertura para o zênite. Tem 13,4 m de comprimento, 3,7 m de largura e 2,6 m de
altura. Localiza-se nas coordenadas UTM24L 263347, UTMN 8916336, a 465 m de
altitude (Fig. 23).
No município de Sento Sé é comum encontrarem-se bases de
pilão, esculpidas em matacões ou fixas em afloramentos rochosos. Normalmente
eles situam-se próximo a fontes de água ou no leito dos riachos, junto a solos
agricultáveis onde, no período da pré-história entre outras culturas se plantava
milho. Calderón et al. (1977, p. 35) afirmaram
que, na pré-história “este cereal, como base alimentar, era pilado, moído ou
triturado e utilizado de diversas maneiras na alimentação”.
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Figura 22
– Sítio arqueológico Morrinho 2 – 028.2
(Foto: Acervo pessoal dos
autores)
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Figura 23
– Base fixa de pilão
(Foto: Acervo pessoal dos autores)
|
4.3 MORRINHO 3 – 028.3
O sítio arqueológico Morrinho 3 – 028.3 é constituído
de um matacão com painéis de pintura rupestre. Trata-se de um metagranito
porfirítico de regime transcorrente da Tectogênese Transamazônica. O matacão
tem orientação noroeste – sudeste, com abertura para nordeste. Tem 2,9 m
de comprimento, 2,0 m de altura e 0,5 m de largura (3).
Localiza-se nas coordenadas UTM24L 263311, UTMN 8916316, a 463 m de altitude
(Fig. 24 e 25).
|
Figura 24 – Sítio arqueológico Morrinho 3
– 028.3
(Foto: Acervo pessoal dos autores)
|
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Figura 25
– Matacão com painéis de pintura rupestre
(Foto: Acervo pessoal dos
autores)
|
O matacão está sofrendo
desplacamento causado pela oscilação térmica que decorre, principalmente das
mudanças de temperatura entre o dia e a noite. Outros agentes como água,
insetos e microorganismos aceleram a sua desagregação (BRUNET, VIDAL E VOUVÉ,
1986). As pinturas estão bastante desgastadas por causa de sua exposição ao
sol, ao vento e à chuva. Além disso, há raízes de xiquexique (Cephalocereux
gounellei) (Fig. 26), urina e fezes de mocó (Kerodon rupestris)
(Fig. 27) muito próximas às pinturas.
|
Figura 26
– Xiquexique fixo no suporte
(Foto: Acervo pessoal dos autores)
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Figura 27
– Fezes e urina de mocó
(Foto: Acervo pessoal dos autores)
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Segundo Brunet, Vouvé e Vidal (1986) os vegetais
presentes na rocha podem destruir por três vias diferentes: a química, a mecânica
e a microbiológica. Pela via química porque produzem ácidos húmicos que atacam
o cimento rochoso, desintegrando-o. Pela via mecânica porque as raízes fixas no
suporte necessitam de espaço para crescerem e, assim, aumentam as fendas das
rochas. Pela via microbiológica porque as plantas retêm umidade, gerando um
microclima ideal para a proliferação de microorganismos.
4.3.1 Pinturas
rupestres
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Figura 28 – Painel 01, com quatro
figuras reconhecíveis.
(Fonte: Kestering, 2011, p. 144)
|
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Figura 29 – Imagem vetorizada do
painel 01 |
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Figura 30 – Painel 02, com três
figuras reconhecíveis.
(Foto: Acervo pessoal dos autores)
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Figura 31 – Imagem vetorizada do
painel 02
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Figura 32 – Painel 03, com uma figura
reconhecível
(Foto: Acervo pessoal dos autores)
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Figura 33 – Imagem vetorizada do
painel 03
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Figura 34 – Painel 04, com uma figura
reconhecível
(Foto: Acervo pessoal dos autores)
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Figura 35 – Imagem vetorizada do
painel 04
|
8. CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Desvendada parte do contexto ambiental, proceder-se-á a
análise das pinturas para classificá-las com base nos parâmetros da
cognoscibilidade e da temática. Por ser estrutural, o parâmetro da
cognoscibilidade permitirá identificar invariâncias nos atributos da identidade
dos autores. Essas invariâncias são indicativas da ligação destes com seus
ancestrais.
Por ser variável, em consequência da relação dos autores
com diferentes ambientes, o parâmetro da temática possibilitará, por sua vez,
identificar especificidades nos atributos dos grupos que efetivamente ocuparam
o Serrote do Morrinho e o seu entorno. Enfatizar-se-á a identificação da
temática dominante, estribados no pressuposto de que ela é o atributo cultural
de maior relevância porque resulta de uma prolongada relação dos autores com a
paisagem local, singularizando atributos gráficos de sua identidade. A
particularização dos atributos da identidade fundamenta-se, também, na
preferência ou disponibilidade de suportes para a realização das pinturas
(KESTERING, 2007).
¿Preguntas,
comentarios? escriba a: rupestreweb@yahoogroups.com
Cómo citar este artículo:
Kestering, Celito y Cavalcante Ribeiro, Morgana. Contexto geoambiental do
Serrote do Morrinho, em Sento Sé - BA, Brasil.
En Rupestreweb, http://www.rupestreweb.info/morrinho.html
2013
BIBLIOGRAFÍA
ANGELIM, Luiz
Alberto de Aquino. Programa
Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil. Petrolina. Folha SC. 24
–V – C. Estados da Bahia, Pernambuco. 1997.
BAHN, Paul; RENFREW, Colin. Arqueología, Teorias,
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BICHO, Nuno Ferreira. Manual de
arqueologia pré-histórica. Lisboa, Portugal: 70 Compêndio, 2006.
BRUNET J.,
VIDAL P., VOUVE J., 1986. Paris, Conservation De L’art Rupestre, Etudes et
Documents sur le Patrimoine Culturele, N°7, Unesco, 108 p.
BUTZER, Karl W. Arqueología una
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CALDERÓN,
Valentin; JÁCOME, Yara Dulce Bandeira de Ataíde; SOARES, Ivan Dorea Cancio. Relatório
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75 p.
GOOGLE
EARTH. US Depto State Geographer. Maplink / Tele Atlas.
2013. Acesso em 20 de Janeiro de 2013.
KESTERING,
Celito. Identidade dos grupos
pré-históricos de Sobradinho-BA. Recife: UFPE, 2007. Tese (Doutorado em
Arqueologia) – Programa de Pós-Graduação em Arqueologia, Universidade
Federal de Pernambuco, Recife, 2007.
______.
Patrimônio Arqueológico de Sento Sé – BA. 2011 (Prelo).
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