Medidas experimentais in situ para avaliar
o estado de conservação do sítio arqueológico
Letreiro da Pedra Riscada, Domingos Mourão, Piauí, Brasil


Luis Carlos Duarte Cavalcante cavalcanteufpi@yahoo.com.br
Heralda Kelis Bezerra da Silva
Yana Raquel Viana Alves 

 

RESUMO

O sítio de arte rupestre Letreiro da Pedra Riscada é um abrigo sob rocha arenítica localizado na área rural da cidade de Domingos Mourão, estado do Piauí, Brasil, contendo 164 grafismos puros (majoritariamente círculos concêntricos) e carimbos de mãos humanas, pintados predominantemente em tonalidades diferentes de vermelho, com alguns motivos em amarelo. Este artigo reporta os resultados de medidas termo-higrométricas e de velocidade dos ventos, obtidos em análises in situ, realizadas no Letreiro da Pedra Riscada. É o primeiro trabalho de arqueometria com medidas sistemáticas destes parâmetros para a avaliação do estado de conservação de patrimônio cultural arqueológico pré-histórico, no Centro-Norte do Piauí.

Palavras Chave: Rock paintings, Cultural heritage, Conservation, Letreiro da Pedra Riscada, Brazil.


ABSTRACT

The Letreiro da Pedra Riscada rock art site is a sandstone shelter located in the rural area of the city of Domingos Mourão, Piauí state, Brazil, containing 164 geometric figures (majority concentric circles) and human handprints, painted predominantly in different tonalities of red, with some motifs in yellow. Archaeometric analyses of the site are presented, namely data in-situ collected of prehistoric paintings and rock temperatures as well as air temperature, relative humidity and wind velocity. The results from the analyses are presented and discussed in details.

Keywords: Rock paintings, Cultural heritage, Conservation, Letreiro da Pedra Riscada, Brazil.

 

Introdução

As pinturas rupestres no estado do Piauí são encontradas frequentemente em abrigos sob rocha arenítica. Essa matriz rochosa é em geral friável e sofre ações simultâneas do tempo, dos intemperismos físico, químico e biológico e consequente erosão, configurada através da remoção física dos materiais pelos agentes de transporte, além das intervenções antrópicas, portanto, um conjunto diversificado e complexo de parâmetros que atuam de forma intensa na degradação tanto dos suportes rochosos quanto dos próprios registros rupestres (Cavalcante et al., 2012).

Entre os aspectos mencionados, os fatores térmicos (temperatura do substrato e do ambiente) contribuem para o intemperismo físico da rocha. Outro fator a influenciar na deterioração consiste nos ventos que carreiam os grãos menores que atuam por abrasão e removem a camada de tinta pré-histórica e/ou recobrem por completo os grafismos com um filme de poeira, que se deposita nas paredes rochosas (Cavalcante et al., 2012). A umidade relativa do ar, por sua vez, representa o teor de água disponível em estado de vapor e tem sua parcela de contribuição no intemperismo químico que ocorre na matriz rochosa e no fino filme de tinta pré-histórica das pinturas rupestres.

Alguns pesquisadores têm se debruçado na investigação desses variados aspectos, buscando entender de forma mais aprofundada a intensidade com que cada um deles influencia na conservação dos substratos pétreos. Entre os principais trabalhos, podem ser elencados Brunet, Vidal e Vouvé (1985); Lazzarini e Pieper (1988); Brunet, Vouvé e Malaurent (1993; publicado em 1997); Maekawa et al. (1993; publicado em 1997); Miura et al. (1993; publicado em 1997); David (2001); Deacon (2006); Hall, Meiklejohn e Arocena (2007); Díez-Herrero et al. (2009) e Hall et al. (2010).

Neste trabalho, objetivou-se realizar medidas termo-higrométricas e de velocidade dos ventos no sítio Letreiro da Pedra Riscada, situado no povoado Há Mais Tempo, município de Domingos Mourão, Piauí, Brasil (Figura 1). O interesse foi investigar a variação da temperatura no substrato rochoso (áreas com e sem pinturas rupestres) e no ambiente, a umidade relativa do ar e a velocidade dos ventos, de modo sistemático, ao longo do dia e em diferentes períodos do ano.

 

O sítio Letreiro da Pedra Riscada

O sítio de arte rupestre Letreiro da Pedra Riscada (Figura 2) é um abrigo sob rocha arenítica, localizado no povoado “Há Mais Tempo”, nas coordenadas geográficas 4°11’42,9” de latitude Sul e 41°26’58,8” de longitude Oeste, na área rural do município de Domingos Mourão, estado do Piauí, Brasil, contendo 164 inscrições rupestres (em sua maioria círculos concêntricos, carimbos de mãos humanas e conjuntos de pontos) pintadas predominantemente em tonalidades diferentes de vermelho, com alguns motivos em amarelo. As pinturas estão distribuídas tanto nas paredes quanto no teto do abrigo, sendo que o registro mais alto situa-se a 2,60 metros e o mais baixo a 22 centímetros, ambos em relação ao nível médio do solo atual. A vegetação e a fauna foram descritas preliminarmente e o estado de deterioração das pinturas rupestres foi avaliado. A conservação das pinturas do abrigo é afetada por erosão natural, eflorescências salinas, infiltração de água, líquens, dejetos animais, ação de insetos (sobretudo cupins e ninhos de vespas) e impacto humano (lixo, pichações e manchas de fumaça) (Cavalcante, 2011).

Figura 1. Mapa do Brasil e mapa do Piauí com destaque para o sítio
Letreiro da Pedra Riscada.

Figura 2. Vista parcial do sítio arqueológico Letreiro da Pedra Riscada.


Metodologia

A coleta de dados foi realizada in situ, em cinco campanhas de campo, efetuadas, respectivamente, nos meses de novembro de 2011, junho de 2012, outubro de 2012, dezembro de 2012 e junho de 2013 e as medidas sistemáticas, além do aspecto sazonal em diferentes períodos do ano, também consideraram a variação dos parâmetros avaliados ao longo do dia.

As medidas de temperatura do ar e de umidade relativa do ar foram coletadas usando um termo-higrômetro digital da Instrutemp, com escalas internas de -10 ºC a +50 ºC (para temperatura) e 15% a 95% (para umidade), resoluções correspondentes de 0,1 ºC e 1% e precisões respectivas de ± 1 ºC e ± 5%.

A avaliação de temperatura (realizada em três diferentes pontos, conforme a Figura 3) em áreas do suporte rochoso com pinturas rupestres e, comparativamente, em áreas, imediatamente adjacentes, sem tinta pré-histórica, foi efetuada com um termômetro infravermelho ITTI-550 da Instrutemp, projetado para a medição da temperatura de superfícies, com escala de -32 ºC a +530 ºC, resolução de 0,1 ºC e precisão de ± 2%.

Figura 3. Áreas do sítio Letreiro da Pedra Riscada em que foram realizadas as medidas in situ de temperatura, com destaque para as pinturas rupestres que foram analisadas. 1: círculo concêntrico vermelho; 2: grafismo puro vermelho; 3: círculo concêntrico vermelho.

A velocidade dos ventos foi aferida com um anemômetro digital portátil ITAN-700 da Instrutemp, com escala de 0 a 30 m s-1.


Resultados e Discussão

Os resultados das medidas de temperatura do ar ambiente podem ser observados na Figura 4. A amplitude térmica no dia 13 de novembro de 2011 foi de 5,4 ºC, com mínima de 28,2 ºC nas primeiras horas da manhã e máxima de 33,6 ºC às 13h50min. Em 15 de junho de 2012 a amplitude térmica foi de 5,3 ºC, com mínima de 29,6 ºC no início da manhã e máxima de 34,9 ºC, às 13h42min. Em 14 de outubro de 2012 a amplitude térmica correspondente foi de 7,5 ºC, com mínima de 28,9 ºC no início da manhã e máxima de 36,4 ºC às 14 horas. A amplitude térmica durante no dia 27 de dezembro de 2012 foi de 9,8 ºC, com mínima de 26,8 ºC nas primeiras horas da manhã e máxima de 36,6 ºC às 14h06min. Em 22 de junho de 2013 a amplitude térmica foi de 4,6 ºC, com mínima de 24,7 ºC às 15h48min e máxima de 29,3 ºC às 14h48min. De forma geral, as maiores temperaturas foram verificadas no intervalo entre as 13 horas e 15 horas, com picos térmicos próximos das 14 horas.

A amplitude térmica geral no período em que as medidas experimentais foram realizadas foi de 11,9 ºC, com máxima de 36,6 ºC em dezembro de 2012 e mínima de 24,7 ºC em junho de 2013. Genericamente, as temperaturas mais elevadas foram observadas no segundo semestre do ano, entre outubro e dezembro (no período mais seco), e as mais baixas foram verificadas no primeiro semestre, no período úmido, em que as chuvas se concentram. Curiosamente duas inversões foram observadas, nos meses de novembro de 2011 (em que as temperaturas mostraram-se substancialmente baixas) e em junho de 2012 (que exibiu comportamento térmico com temperaturas relativamente elevadas).

A amplitude da umidade relativa do ar (também mostrada na Figura 4) durante no dia 13 de novembro de 2011 foi de 23%, com máxima de 57% no início da manhã e mínima de 34% próxima às 15 horas. Em 15 de junho de 2012 a amplitude de umidade foi de 37%, com máxima de 71% no início da manhã e mínima de 34%, próxima às 16 horas. Em 14 de outubro de 2012 a amplitude de umidade relativa do ar ambiente foi de 30%, com mínima de 29% às 16 horas e máxima de 59% nas primeiras horas da manhã. A amplitude de umidade do ar no dia 27 de dezembro de 2012 foi de 43%, com máxima de 68% no início da manhã e mínima de 25% às 17h06min. Em 22 de junho de 2013 a amplitude de umidade relativa foi de 14%, com mínima de 73% às 14h48min e máxima de 87% às 15h48min.

Em relação a todo o período em que as medidas foram efetuadas no abrigo Letreiro da Pedra Riscada, a amplitude global de umidade relativa do ar foi de 62%, com mínima de 25% em dezembro de 2012 e máxima de 87% em junho de 2013.

De modo geral, verificou-se que o período de mais baixa umidade relativa do ar ocorre no segundo semestre do ano (naturalmente acompanhando o período de estiagem), ao passo que as umidades mais elevadas concentram-se no primeiro semestre, nos meses mais chuvosos. A exceção a esse comportamento genérico ocorreu no mês de junho de 2012, que apresentou umidades relativas mais baixas do que as esperadas para esse período do ano.

Figura 4. Temperatura e umidade relativa do ar ambiente no período de novembro de 2011 a junho de 2013.

 

Os resultados das medidas de temperatura nos pontos P1 e P2 (áreas com e sem pintura rupestre), realizadas no dia 13 de novembro de 2011, estão apresentados na Figura 5. A amplitude térmica nessa época do ano foi de 3,4 ºC (no ponto P1), com mínima de 30,1 ºC no início da manhã e máxima de 33,5 ºC às 13h50min. Nesse mesmo período a amplitude térmica no ponto P2 foi de 3,5 ºC, com máxima de 33,6 ºC às 13h50min e mínima de 30,1 ºC nas primeiras horas da manhã. Em geral, não foram verificadas diferenças significativas de temperatura entre áreas pintadas e sem tinta pré-histórica. Em novembro todo o abrigo rupestre fica protegido da incidência solar durante o dia inteiro. O período do dia em que se verificaram as maiores temperaturas no substrato rochoso, tanto nas áreas com pintura rupestre quanto nas imediatamente adjacentes sem tinta, foi próximo das 14 horas. As amplitudes térmicas do substrato rochoso nas áreas sem tinta pré-histórica foram, respectivamente, 3,2 ºC (no ponto P1) e 3,4 ºC (no ponto P2).

Figura 5. Temperaturas do substrato rochoso nos pontos P1 e P2 (áreas com pinturas rupestres e imediatamente adjacentes, sem tinta pré-histórica). Medidas feitas em 13 de novembro de 2011.


Em 15 de junho de 2012, no entanto, muitas pinturas rupestres do sítio recebem incidência direta da radiação solar durante quase todo o período da manhã (até às 11h29min). Nessa época do ano também não foram verificadas diferenças significativas de temperatura entre as áreas pintadas e as sem tinta pré-histórica (Figura 6). A amplitude térmica em junho de 2012 no ponto P1 foi de 6,7 ºC, com mínima de 30,0 ºC nas primeiras horas da manhã e máxima de 36,7 ºC próxima das 14 horas. No ponto P2 a amplitude térmica foi de 7,3 ºC, com mínima de 30,3 ºC, no início da manhã, e máxima de 37,6 ºC, às 13h42min. A avaliação de um terceiro ponto (P3; investigado apenas a partir das 8h42min), em uma pintura rupestre situada em uma área do abrigo mais exposta à radiação solar direta, exibiu temperatura máxima de 38,7 ºC, às 13h42min. As amplitudes térmicas observadas nas áreas sem tinta foram de 6,8 ºC (no ponto P1) e de 7,5 ºC (no ponto P2). As temperaturas mais elevadas nesse período foram verificadas entre às 11 horas e às 14 horas, tanto nas áreas pintadas quanto naquelas que não continham tinta pré-histórica.

Figura 6. Temperaturas do substrato rochoso nos pontos P1 e P2 (áreas com pinturas rupestres e imediatamente adjacentes, sem tinta pré-histórica). Medidas feitas em 15 de junho de 2012.


A avaliação térmica também foi efetuada em 14 de outubro de 2012 e os dados coletados são apresentados na Figura 7. Nesse mês a amplitude térmica no ponto P1 foi de 5,9 ºC, com mínima de 31,1 ºC, no início da manhã, e máxima de 37,0 ºC, às 14 horas. No ponto P2, verificou-se uma amplitude de temperatura da ordem de 6,1 ºC, com máxima de 37,4 ºC às 14 horas e mínima de 31,3 ºC nas primeiras horas da manhã e no ponto P3 a amplitude térmica foi de 6,9 ºC, com mínima de 30,6 ºC, no início da manhã, e máxima de 37,5 ºC, às 14 horas.

As amplitudes térmicas registradas nas áreas do substrato rochoso que não possuem aplicação de tinta foram de 6,0 ºC (no ponto P1), de 5,9 ºC (no ponto P2) e de 6,8 ºC (no ponto P3), respectivamente. Nesse período do ano toda a área abrigada fica protegida da incidência direta da radiação solar durante o dia inteiro.

Figura 7. Temperaturas do substrato rochoso nos pontos P1, P2 e P3 (áreas com pinturas rupestres e imediatamente adjacentes, sem tinta pré-histórica). Medidas feitas em 14 de outubro de 2012.

As medidas experimentais (Figura 8) in situ efetuadas em 27 de dezembro também apontaram genericamente que nesse período nenhuma diferença significativa é observada entre as áreas pintadas e aquelas que não contêm tinta aplicada. A amplitude térmica no ponto P1 foi de 6,7 ºC, com mínima de 29,9 ºC no início da manhã e máxima de 36,6 ºC às 14h06min. No ponto P2 a amplitude de temperatura foi da ordem de 7,1 ºC, com máxima de 36,8 ºC às 14h06min e mínima de 29,7 ºC às 5h06min. No ponto P3, a diferença entre a temperatura mais elevada e a mais baixa foi de 8,1 ºC, com mínima de 28,9 ºC, nas primeiras horas da manhã, e máxima de 37,0 ºC, às 14h06min. Nas áreas, imediatamente adjacentes, mas que não contêm tinta pré-histórica, as amplitudes térmicas foram, respectivamente, de 6,5 ºC, 7,1 ºC e 8,0 ºC.

Figura 8. Temperaturas do substrato rochoso nos pontos P1, P2 e P3 (áreas com pinturas rupestres e imediatamente adjacentes, sem tinta pré-histórica). Medidas feitas em 27 de dezembro de 2012.

As temperaturas registradas nos pontos P1, P2 e P3 (áreas com e sem pinturas rupestres) em 22 de junho de 2013 estão apresentadas na Figura 9. Neste período do ano, a amplitude térmica correspondente a tais áreas foi de 2,6 ºC, com mínima de 28,4 ºC, às 15h48min, e máxima de 31,0 ºC, próxima às 14 horas, no ponto P1; de 3,0 ºC, com máxima de 30,8 ºC, às 4h48min, e mínima de 27,8 ºC, às 15h48min, no ponto P2; e de 3,5 ºC, com mínima de 27,9 ºC, no início da manhã, e máxima de 31,4 ºC, próxima às 14 horas, no ponto P3. As áreas imediatamente adjacentes aos pontos investigados, mas que não têm tinta, apresentaram, respectivamente, as amplitudes térmicas de 2,4 ºC, 3,3 ºC e de 3,4 ºC.

Figura 9.Temperaturas do substrato rochoso nos pontos P1, P2 e P3 (áreas com pinturas rupestres e imediatamente adjacentes, sem tinta pré-histórica). Medidas feitas em 22 de junho de 2013.


A Figura 10 permite observar melhor o comportamento da temperatura atuante nas pinturas rupestres e no ambiente do abrigo Letreiro da Pedra Riscada. Inicialmente, verificou-se que a temperatura do ar, de modo geral, mostrou-se comparativamente mais baixa que a temperatura dos filmes pictóricos. O comportamento diferenciado do ponto P3 no mês de junho de 2012 é decorrente da exposição direta à radiação solar, uma vez que o grafismo rupestre correspondente a esse ponto fica numa área mais baixa e menos protegida pelo teto do abrigo. A pintura é atingida diretamente pela luz do sol até às 10 horas e 46 minutos, sofrendo o efeito da temperatura de forma muito mais intensa e severa, verificando-se um máximo de 38,7 ºC, às 13h42min.

Embora o abrigo fique completamente protegido da radiação solar direta entre os meses de outubro e dezembro, é justamente nesse período do ano em que se verificam as temperaturas mais elevadas. Um comportamento anômalo foi observado no mês de novembro de 2011, com temperaturas relativamente baixas para o segundo semestre do ano, uma exceção à tendência geral.

 

Figura 10. Temperaturas das áreas pintadas do substrato rochoso nos pontos P1, P2 e P3 e do
ar ambiente (nos meses de novembro de 2011 a junho de 2013).


A velocidade dos ventos em 13 de novembro de 2011 foi aferida apenas no período da tarde, após as 15 horas, e variou sequencialmente entre 0,9; 0,5; 2,0; 1,3; 1,2; 0,6; 0,2; 1,1; 2,7; 2,3; 0,8; 1,4; 1,7; 1,2; 0,9 e 1,2 m s-1. Nos meses de junho de 2012 a junho de 2013, por outro lado, as medidas foram efetuadas de modo mais sistemático e os resultados estão apresentados na Figura 11. De modo geral o segundo semestre do ano tem maior frequência e intensidade de ventos. As velocidades máximas registradas foram de 5,4 m s-1 (em 14 de outubro de 2012) e de 4,4 m s-1 (em 27 de dezembro de 2012), equivalentes a 19,44 km h-1 e 15,84 km h-1, respectivamente. Observou-se ainda que a maior incidência das correntes de ar ocorre no período da manhã.

Figura 11. Velocidade dos ventos incidentes no sítio Letreiro da Pedra Riscada,
ente junho de 2012 e junho de 2013.

Considerações Finais

A rocha suporte das pinturas rupestres do sítio Letreiro da Pedra Riscada está exposta ao tempo e sujeita a todos os tipos de agressões, desde as naturais, devidas às intempéries, até às ações antrópicas, de origem acidental ou intencional, que passam a ter efeito tanto sobre a matriz pétrea quanto sobre os grafismos.

As medidas experimentais apontaram uma amplitude térmica diária, entre os meses de novembro de 2011 e junho de 2013, que varia frequentemente, mas que se situa no intervalo de 4,6 ºC a 9,8 ºC (no ar ambiente), de 2,6 ºC a 6,7 ºC (na área pintada do ponto P1), de 3,0 ºC a 7,3 ºC (na área com tinta pré-histórica do ponto P2) e de 3,5 ºC a 8,1 ºC (na pintura rupestre do ponto P3). Esta variação de temperatura influencia diretamente na deterioração do suporte rochoso e das pinturas rupestres, causando o surgimento de novas rachaduras e o alargamento das fraturas já existentes, bem como podendo levar a possíveis desplacamentos das porções mais externas do arenito. Os diferentes graus de dilatação dos diversos minerais constituintes do substrato e dos pigmentos minerais das tintas pré-históricas sofrem intensamente a ação de tais fatores térmicos, que atuam de modo diferenciado, dependendo do mineral.

Observou-se que a temperatura atuante nas pinturas rupestres é consideravelmente mais elevada no mês de dezembro, com amplitude térmica de 8,1 ºC, em um dos pontos de maior incidência direta da radiação solar.

De forma genérica, observa-se que o comportamento térmico é diferenciado ao longo do substrato arenítico, dependendo da exposição direta ou não à radiação solar e do tempo em que tal exposição efetivamente ocorre.

A umidade relativa do ar, da mesma forma, variou em um amplo intervalo. Este parâmetro, associado ao teor de água oriundo de infiltração e consequente migração do interior da rocha matriz, bem como às águas que eventualmente escorrem pelas paredes do arenito, influenciam diretamente no grau de hidratação de alguns constituintes mineralógicos, sobretudo dos compostos salinos, correlacionando-se de forma direta com o aparecimento de eflorescências salinas e favorecendo a proliferação de líquens (associações simbióticas entre fungos e algas ou cianobactérias), os quais deixam manchas de cores variadas.

A velocidade dos ventos também exibiu valores relativamente altos, em determinados horários do dia (nos meses de outubro e dezembro), nos quais pode atuar mais fortemente na degradação das pinturas rupestres, pois carreia os grãos menores da estrada de chão, existente na frente do abrigo. Os microcristais de silicatos e argilominerais avermelhados atuam por abrasão e removem a camada de tinta pré-histórica. Muitos grafismos rupestres estão desaparecendo integralmente e/ou sendo recobertos por completo pelo filme de poeira, que se deposita na parede do abrigo.

A relava baixa incidência de ventos nos meses de junho de 2012 e de 2013 pode ser explicada pelo aumento da vegetação no entorno no abrigo (abundante no final do período chuvoso e formando uma cortina verde), o que impede que as correntes de ar atinjam mais fortemente o abrigo e, por consequência, as pinturas rupestres.

O perigo evidente de destruição do abrigo Letreiro da Pedra Riscada exige ações efetivas no sentido de desviar o trecho da PI-258 (estrada de chão) no qual o sítio está localizado. Por outro lado, intervenções de conservação também são necessárias, visando barrar ou pelo menos desacelerar a ação dos principais agentes degradantes. A remoção mecânica dos ninhos de vespas (maria-pobre), das galerias de cupins e do lixo antrópico, da mesma forma que a retirada da camada de poeira que está recobrindo as pinturas situadas nas partes mais baixas dos painéis rupestres, é prioritária. Além disso, plantar mudas de árvores nativas, permitindo um maior obstáculo para a incidência solar direta e diminuição da ação dos ventos no abrigo.

Além dos aspectos levantados, o monitoramento constante dos problemas de conservação é necessário e de suma importância, para o controle efetivo dos agentes degradantes.

 

abreu

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Duarte Cavalcante, Luis Carlos; Viana Alves, Yana Raquel y Bezerra da Silva,
Heralda Kelis.
Medidas experimentais in situ para avaliar o estado de conservação
do sítio arqueológico Letreiro da Pedra Riscada, Domingos Mourão, Piauí, Brasil
.
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2015


REFERENCIAS

 
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