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5) Tradição Planalto foi a denominação dada por PROUS, da UFMG, para signos [encontrados] em mais de 100 painéis presentes em São Paulo, Minas Gerais e Bahia. Nesta tradição são numorosos os zoomorfos pintados com vermelho de hematita apresentando corpos chapados, pontilhados ou estriados. Aí, também, aparecem duplas antropomórficas tendo nos braços outra figura, menor, aparentemente humana, como se fosse a entrega de um bebê. Um trângulo aparece sempre junto destas três figuras. Outra recorrência nesta área é a série de antropomorfos em fila, conduzindo um elemento com o abdômen expandido. Estas figuras são, no geral, filiformes e apresentam cabeças resolvidas em forma de “C”, discutidas na tradição seguinte; 6) A Tradição Nordeste foi reconhecida por Guidon, na Serra da Capivara, Sudeste do Piauí. Comporta subtradições ou estilos que tem como elemento comum o dinamismo, as cenas de ação, de dança, caça e cópula. Antropomorfos em oposição “dorso a dorso” são frequentes, com o elemento triangular sempre associado. Aparecem muitos zoomorfos e sinais geométricos irreconhecíveis. Nesta tradição são notadas as subtradições “Serra da Capivara”, com os já citados grupos de pequenos antropomorfos; a “Serra Branca”, com antropomorfos de corpos retangulares, alongados verticalmente, cocares e corpos completamente desenhados, no interior, como representação de pinturas corporais; por fim, a “Subtradição Seridó”, reconhecida nesta região por G. Martin, com figuras antropomórficas ou zomórficas apresentando a característica cabeça em forma de “C”. Esta representação humana está presente nos Abrigos Vermelhos (MT), Sete Cidades (CE) e algumas partes da Califórnia e do México. Estas convergências foram estudadas recentemente pelo norte-americano Richard (“Dito”) Morales, na sua tese de doutoramento; 8) Na tradição São Francisco, padrões policrômicos altamente complexos compreendem quase 100% das figuras. São, na maioria, polígonos, muitos quadriláteros divididos, internamente, por linhas vermelhas ou ocres, muitas apresentando sinais de repintura e retoque. Em Barrinha, perto de Carinhanha, na Serra do Ramalho, um sítio contendo centenas desses grafismos foi localizado por este autor, no teto de um abrigo rochoso encravado numa cratera de dificílimo acesso sem equipamentos de alpinismo. Vasos de cerâmica indígena estavam ainda intactos, a céu aberto, sobre cinzas de fogueiras protegidas da chuva, do vento e de curiosos naquele local inóspito. Estes grafismos São Francisco lembram, vagamente, padrões decorativos cesteiros ou a complicada decoração da cerâmica marajoara;
9) As tradições amazônicas, apesar de terem sido primeiramente descritas por Koch-Grunberg, no XIX e, por Silva Ramos, nas primeiras décadas do XX, são hoje as menos conhecidas tradições rupestres brasileiras; M.Consens e E. Pereira (1997) trabalharam na classificação dos dados disponíveis relativos a esta vastidão territorial. No geral, a arte rupestre amazônica apresenta poucas correlações com congêneres das outras regiões brasileiras. APROXIMAÇÕES ETNO-HISTÓRICAS NA ÁREAFontes históricas apontam à presença de diferentes grupos etnolinguísticos no atual território baiano. Estão os Kiriri, possivelmente, entre os mais antigos homens a se assentarem na área, com vocabulário algo relacionado a certas línguas andinas contemporâneas. Embora outrora reconhecidos como grupo lingüístico independente, os dialetos Kiriri são hoje associados ao tronco Macrogê, de ampla distribuição no atual estado baiano. Estes são representados pelos Acroá, Kaiapó, Masakará, Aimoré (Botocudos), Guerém (Krem), Kamakã, Patashó e Sokó; Os grupos tupifônicos, habitaram principalmente na costa marítma e nas margens dos grandes rios do interior, onde podiam pescar com suas canoas, caçar, coletar mariscos, praticar a silvicultura e a sua agricultura incipiente de feijões, milhos, batatas e abóboras. Foram expulsos ao sertão pelo colonizador, ali deixando, eventualmente, traços da sua marca étnica na arte rupestre local. Os assentamentos europeus na região central da Bahia apareceram após o XVIII, quando descendentes do “ Caramurú” estabeleceram currais na ribeira sãofranciscana e na região de Serrinha. Joana Guedes de Brito, herdeira da Casa da Torre e proprietária das terras entre Serrinha e o Rio das Velhas, próximo à atual Belo Horizonte, abriu sobre milenares caminhos indígenas a legendária “Estrada da Tropeira Joana”, onde hoje corre, asfaltada, a Estrada do Feijão, ligando Feira de Santana a Xique- Xique. Artefatos desta época são encontrados nas propriedades à margem desta antiga estrada. Longas estações secas e falta de programas efetivos de irrigação estagnaram a economia de grandes áreas do semi-árido baiano, onde se localiza grande parte da arte rupestre local. Isso contribui, de certo modo, para minimizar a destruição destes sítios arqueológicos, como ocorreu com os sítios costeiros, perturbados por intensiva agricultura, mineração e urbanização.
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Como em toda parte do mundo, a arte rupestre na Bahia parece ser fruto de intenções multifuncionais, servindo como memorial de mitos, rituais ou servindo a propósitos prático-mnemônicos, como assinaturas pessoais, marcas étnicas ou simples atividades lúdicas. A morfologia do desenho, técnicas de aplicação e composição do pigmento apontam para diferentes inserções produzidas por diferentes grupos humanos que agiram em diferentes momentos. Esta asserção baseia-se, parcialmente, na presença de pinturas quase transparentes, “desgastadas”, junto de outras apresentando camadas de tinta mais espessa. Poucos sítios foram sistematicamente estudados na área em foco sendo quase todo o trabalho de mapeamento estilístico ainda está por ser realizado, permitindo algum entendimento dos movimentos étnicos pré-históricos. Os grafitti contemporâneos, juntamente às mineradoras e ao fabrico da cal constituem os maiores riscos enfrentados, no momento, pela arte rupestre local.
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Cómo citar este artículo:
Albagli de Almeida, Guilherme y Farias, Luiz Henrique
“Considerações sobre a arte rupestre no estado Da Bahia, Brasil”.
En Rupestreweb, http://www.rupestreweb.info/dabahia.html
2008
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Este trabalho é dedicado à Profa. Dra. Janete Ruiz de Macêdo e à sua valorosa equipe que, com muito empenho e amor, conduzem os trabalhos do Centro de Documentação e Memória (CEDOC) da Universidade Estadual de Santa Cruz