Pinturas rupestres em abrigo sob rocha no Sumidouro do rio Quebra-Perna, Ponta Grossa, Paraná*
Mário Sérgio de Melo. msmelo@uepg.br
Autor para contato: Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG, Campus em Uvaranas, Departamento de Geociências, Ponta
Grossa, PR, Brasil; (42) 3220-3046.
Alessandro Giulliano Chagas Silva. arqueotrekking@gmail.com
Universidade Estadual de Ponta Grossa, Campus em
Uvaranas, Departamento de Geociências, PIBIC/CNPq/UEPG.
Claudia Inês Parellada. Museu Paranaense, Curitiba, PR.
* Publicado originalmente en UEPG Ci. Exatas Terra, Ci. Agr. Eng., Ponta Grossa, 12 (1): 23-31, abr. 2006
RESUMO
A região do Sumidouro do Rio Quebra-Perna apresenta uma
notável conjugação de fatores naturais: feixes de falhas geológicas
paralelas, escarpados em arenitos da Formação Furnas (Devoniano da Bacia do
Paraná), lapas com paredes e tetos rochosos, rio encachoeirado, sumidouros,
ressurgências, matas ciliares e campos limpos. Estas características a tornam
singular. Situada cerca de 25 km a leste-sudeste do centro da cidade de Ponta
Grossa, no centro-leste do Estado do Paraná, apresenta ainda vários sítios
arqueológicos, sendo o principal deles o aqui denominado abrigo sob rocha do
Sumidouro do Rio Quebra-Perna, localizado na margem direita do rio, junto ao
sumidouro. Este abrigo apresenta teto rochoso com um painel com cerca de 4 m²
contendo várias pinturas rupestres, às vezes superpostas, em pigmento
vermelho, representando principalmente cervídeos, atribuíveis à Tradição
Planalto. Sítios análogos são muito comuns na região da Escarpa Devonina, que
limita o Segundo Planalto Paranaense. Seu estudo integrado deverá permitir,
além do aprofundamento do conhecimento da cultura pré-histórica da região,
interpretações paleoambientais e paleoclimáticas valiosas para equacionar a
dinâmica ambiental frente à presença do componente humano nos tempos atuais.
Ademais, estes sítios arqueológicos têm sofrido depredações às vezes irreversíveis,
em conseqüência do desconhecimento de seu significado e de sua importância
pelas populações locais. Este fato reforça a necessidade de divulgação de seu
significado e potencial científico, com o intuito de auxiliar na sua preservação
e correta utilização.
Palavras-chave: pinturas rupestres, Tradição Planalto, Sumidouro do Rio Quebra-Perna
ABSTRACT
The region of the Sinkhole of the Quebra-Perna River
presents a noteworthy assembly of natural factors: parallel swarms of
geological faults, sandstone escarpments of the Furnas Formation (Devonian of
the Paraná Basin), shelters with rocky roofs and walls, a river with
waterfalls, sinkholes and resurgences, riparian woods and grasslands. Such
characteristics turn it into a singular place. Situated about 25 km to the
east-southeast of the city of Ponta Grossa, in the center-east of the State
of Paraná, in southern Brazil, the region also presents several
archaeological sites. One of them is here referred to as the rocky shelter of
the Sinkhole of the Quebra-Perna River, situated on the right margin of the
river, close to the sinkhole. This shelter displays a rocky roof with a panel
about 4 m² wide containing several rupestrian paintings in red pigment,
sometimes superimposed and mostly representing deer, attributable to the
Planalto Pre-Historical Cultural Tradition. Similar sites are very common in
the region of the Devonian Escarpment, which limits the Second Plateau of
Paraná. Its study, besides enriching the knowledge of the prehistoric culture
of the region, would allow for valuable paleoenvironmental and paleoclimatic
interpretations for modeling present-day environmental dynamics. Furthermore,
these archaeological sites have been suffering depredations -some of them irreversible by the local populations, who do not perceive their meaning and
importance. This fact reinforces the need for divulgation of its significance
and scientific potential, with the aim of assisting in its preservation.
Keywords: rupestrian paintings, Planalto Pre-Historical
Cultural Tradition, Quebra-Perna River Sinkhole
Introdução
A
região dos Campos Gerais do Paraná, principalmente as áreas de relevo acidentado nas proximidades da Escarpa Devoniana, apresenta muitos sítios
arqueológicos em abrigos sob rocha (Blasi, 1970 e 1972; Chmyz, 1976; Parellada, 1995-96; Silva, 1999; Silva et. al., s.d.). Os abrigos contêm
vestígios líticos (artefatos de pedra), cerâmicos e, sobretudo, pinturas rupestres, que atestam a passagem de grupos indígenas pré-históricos
pela região. Vários desses abrigos situam-se no vale do Rio Quebra-Perna, um rio de planalto
situado a leste da cidade de Ponta Grossa, singular por apresentar
relevo particularmente acidentado, com escarpamentos voltados para
oeste-sudoeste, contrários ao caimento da Escarpa Devoniana. No abrigo
situado à margem direita do rio, cerca de 25 km a leste-sudeste do centro da
cidade (Figura 1), foi realizado um estudo das pinturas rupestres ali presentes,
com o objetivo de caracterizar e documentar esses grafismos e mapear a área
do sítio arqueológico, buscando acrescentar dados ao esforço de interpretação
do significado regional destas evidências arqueológicas comuns nos
Campos Gerais do Paraná.
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Figura 1 -Localização
do Sítio Arqueológico Sumidouro do Rio Quebra-Perna,
Município de Ponta
Grossa, PR. 1: Escarpa Devoniana; 2: Hidrografia; 3: Bairros e núcleos
urbanos;
4: Estradas principais; 5: Ferrovias; 6: Estradas secundárias; 7: Parque Estadual de Vila
Velha;
8: Abrigo sob rocha do Sumidouro do Rio Quebra-Perna (baseado na Folha
Ponta Grossa
1:250.000
do IBGE, 1983).
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A
metodologia adotada compreendeu as seguintes etapas: levantamento e
pesquisa bibliográfica; fotointerpretação
(fotos aéreas do ITC-PR 1980, escala 1:25.000); levantamento topográfico
e localização do abrigo, realizado com o auxílio de GPS, bússola e trena;
documentação, análise e estudo das pinturas rupestres através de imagens
digitalizadas, que sofrem tratamento e são posteriormente decalcadas a partir
da documentação fotográfica.
Caracterização da área
A
região do vale do Rio Quebra-Perna, um rio de planalto situado a leste da
cidade de Ponta Grossa, caracteriza-se pela ocorrência de arroios com leito
rochoso e encachoeirado, rochedos e lapas sustentadas pelos arenitos da
Formação Furnas (Devoniano). O relevo e a hidrografia local são fortemente
influenciados por estruturas (falhas, fraturas, diques) de direção NE-SW
e NW-SE, associadas à atividade do Arco de Ponta Grossa, importante
arqueamento da crosta terrestre acontecido na região no Mesozóico, cerca de
130 milhões de anos atrás (Santana e Melo, 2001). No local onde existe a lapa
com pinturas rupestres estudada, o rio encontra sistema de fraturas
paralelas de direção NE-SW, encaixando-se e desaparecendo em sumidouros por
debaixo das rochas, formando intrincada rede de canais subterrâneos,
ressurgências e seqüência de cachoeiras. Trata-se de um sítio com
marcante geomorfologia, onde estão preservados túneis secos elevados em relação
ao leito atual do rio, que sugerem paleodutos subterrâneos.
O clima no local é do tipo Cfb da classificação
de Köppen, isto é, um clima quente-temperado e sempre
úmido, cujo mês mais quente registra a média inferior
a 22o C e onze meses do ano com média superior
a 10o C, sujeito a mais de cinco geadas noturnas por
ano (Maack, 1981). A precipitação média é de 1.542
mm anuais, com chuvas bem distribuídas ao longo do
ano, com declínio pouco acentuado nos meses de abril
a agosto (Melo et al., 2000).
Predominam
na região os campos limpos do tipo savana gramíneo-lenhosa (Moro, 1998;
Estreiechen et al,. 2001) que ocupam a maioria dos topos das elevações
e encostas. Matas de Araucaria aparecem na forma de matas ciliares,
freqüentemente encaixadas no fundo de vales ou em capões isolados. Tal formação
florestal é incluída na zona fitoecológica da “Floresta Ombrófila
Mista” (Veloso e Góes Filho, 1982), situando-se na denominada “região
dos campos limpos com capões e matas ciliares ou galerias ao longo dos rios e
arroios (também zonas de Araucaria)” de Maack (1981).
Esse
ambiente abrigava rica fauna, composta principalmente por cervídeos (veados),
canídeos (cachorros do mato e guarás), desdentados (tatus), reiformes
(emas), etc. Nas últimas décadas, com o intenso uso dos campos da região para
o cultivo principalmente de soja, trigo, milho e florestamentos de pinus,
muitas das espécies nativas encontram-se ameaçadas de extinção, e
algumas já não são encontradas. O comportamento desta fáunula é
intrinsecamente atrelado ao potencial hídrico local bem como a suas preferências
alimentares. Algumas espécies utilizam a região apenas como corredor de
acesso a outras regiões, uma vez que os recursos disponíveis nem sempre são
suficientes para o suprimento de suas atividades vitais, não sendo propícios
para sua efetiva permanência no local.
O Sítio
Arqueológico no Sumidouro do Rio
Quebra-Perna
O
sítio arqueológico do abrigo sob rocha no Sumidouro do Rio Quebra-Perna é
formado pelo desprendimento de blocos do Arenito Furnas, o que originou
lapa com cerca de 1,3 m de altura, com piso e teto regulares com 12 m de
extensão por 2 m de profundidade, perfazendo cerca de 24 metros
quadrados de área utilizável (Figura 2).
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Figura 2 -Croqui
e posição relativa do abrigo sob rocha no Sumidouro do Rio Quebra-Perna,
Ponta Grossa, PR. |
O teto deste abrigo apresenta um painel com cerca de 4 m² com pinturas rupestres com
grandes representações
figurativas de animais, principalmente cervídeos (Figura 3). Observa-se também sobreposição de pinturas, o que sugere que
foram confeccio-anos em épocas
diferentes. Embora não existam datações que permitam afirmar a idade das pinturas rupestres, algumas datações em sítios arqueológicos no Estado do Paraná sugerem que elas possam ter sido realizadas no intervalo de tempo entre 200 e 4.000 anos AP (antes do presente) (Blasi, 1972; Chmyz, 1976; Prous, 1992).
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A. Cervídeo listrado |
B. Cervídeo pintado |
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C. dupla de cervídeos chapados |
D. Cervídeo chapado |
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E. Cervídeo galhado chapado |
Figura 3 - Decalques das pinturas rupestres mais
representativas do abrigo sob
rocha no Sumidouro do Rio Quebra-Perna, Ponta
Grossa, PR. |
O abrigo do sumidouro do Rio
Quebra-Perna possivelmente serviu, em épocas remotas, como local de proteção
contra intempéries para grupos nômades de indígenas pré-históricos que
percorriam longas distâncias em busca de caça ou em migrações impostas
por condições ambientais, conflitos entre grupos, etc.
Segue-se descrição de algumas das pinturas mais representativas do abrigo do Sumidouro do Rio Quebra-
Perna, segundo a tabela de classificação de cervídeos de Prous e Baeta (1992/1993):
a) Cervídeo Listrado (Figura 3A):
- Galha: sem galha;
- Formato do corpo: retangular comprido;
- Cauda: reta para cima, extremidade arredondada;
- Perna: forma reta; disposição = homogênea espelhada para fora;
- Extremidade distal: simples; espessura do traço = grosso;
- Cor: vermelho.
b) Cervídeo Pintado (Figura 3B):
- Galha: dupla simples;
- Formato do corpo: biconvexo dissimétrico;
- Cauda: reta para cima, extremidade arredondada;
- Perna: forma pouco curva; disposição = heterogênea;
- Extremidade distal: bidáctilo; espessura do traço = filiforme;
- Cor: vermelho.
c) Dupla de cervídeos chapados semelhantes (Figura 3C):
- Galha: sem galha;
- Forma do corpo: retangular comprido;
- Cauda: reta para cima, extremidade arredondada;
- Perna: forma reta; disposição = heterogênea;
- Extremidade distal: simples; espessura do traço = grosso;
- Cor: vermelho.
d) Cervídeo chapado (Figura 3D):
- Galha: sem galha;
- Formato do corpo: retangular curto;
- Cauda: pontuda para cima;
- Perna: forma pouco curva; disposição = homogênea espelhada para fora;
- Extremidade distal: simples, espessura do traço = grosso;
- Cor: vermelho.
e) Cervídeo galhado chapado (Figura 3E):
- Galha: dupla ramificada;
- Formato do corpo: retangular comprido;
- Cauda: pontuda para cima;
- Perna: forma pouco curva; disposição = homogênea espelhada para fora;
- Extremidade distal: simples, espessura do traço = filiforme;
- Cor: vermelho.
Discussão
Os sítios
arqueológicos com pinturas rupestres são classificados em tradições, em que
uma tradição implica certa permanência de traços distintivos, geralmente
temáticos. O que caracteriza uma tradição freqüentemente é a presença
maior ou menor de representações figurativas humanas, de animais e
vegetais.
No Brasil, são
admitidas as tradições rupestres Meridional, Litorânea Catarinense, Geométrica,
Planalto, Nordeste, Agreste e São Francisco (Prous, 1992; Schmitz,
1997), algumas com subdivisões. No Paraná, a maior parte dos abrigos com
pinturas rupestres concentra-se nos municípios de Sengés, Jaguariaíva,
Piraí do Sul, Castro, Tibaji, Ventania, Ponta Grossa, Palmeira e Irati,
ou seja, grande parte dessas pinturas situa-se na região dos Campos
Gerais, em abrigos-sobrocha em arenitos da Formação Furnas, na Escarpa
Devoniana e suas proximidades, como é o caso da lapa do Sumidouro do Rio
Quebra-Perna. Destes sítios arqueológicos, aqueles com pinturas rupestres,
dadas suas características, têm sido relacionados às tradições Planalto e
Geométrica (Parellada, s.d.).
Sítios
atribuídos à Tradição Planalto distribuemse no Planalto Central
Brasileiro, desde as nascentes do rio Tibaji e tributários do médio Iguaçu,
no Paraná, até o Estado da Bahia, concentrandose em Minas Gerais (Schmitz, 1997). Segundo Prous (1992) a quase
totalidade dos sítios só apresenta grafismos pintados, geralmente em vermelho
e mais raramente em preto ou amarelo, por vezes em branco. A ocorrência de
cenas é rara (e vai depender dos critérios de cada pesquisador), e o que
acontece em muitos destes sítios é uma justaposição de elementos. As figuras
mais destacadas são sempre as de animais, monocrômicas, cuja freqüência
pode ser muito alta, aparecendo figuras humanas em pequena quantidade. Entre
os animais, os quadrúpedes são os mais representados, particularmente os
cervídeos. Em certas regiões, os outros animais freqüentes são os peixes
e/ou pássaros. Raramente são encontrados figuras de tatus, tamanduás,
porcos-domato, etc.
Já na Tradição Geométrica, também representada no Estado do
Paraná, encontra-se uma grande quantidade de figuras geométricas (traços, círculos,
trângulos, pontos, linhas paralelas), com a utilização da policromia,
especialmente do vermelho com o amarelo. Há também outros motivos, porém
raros, como lagartos, aves e ocasionalmente antropomorfos estilizados
(Schmitz, 1997). Os sítios desta tradição formam um conjunto heterogêneo,
cuja extensão vai desde o Planalto Catarinense, no Sul, até o Nordeste do Brasil.
Tendo em vista as características das pinturas rupestres do
abrigo sob rocha no Sumidouro do Rio Quebra-Perna, que representam figuras
monocrômicas vermelhas justapostas, principalmente de animais, em especial
cervídeos, também se pode correlacioná-las à Tradição Planalto. Contudo, em
virtude da falta de determinações cronológicas absolutas nos sítios arqueológicos,
não é ainda seguro afirmar o período de permanência dos indígenas
autores das pinturas na região estudada.
Acredita-se que as pinturas encontradas no abrigo sob rocha
no Rio Quebra-Perna representem a fauna local, que constituía a caça das
tribos do planalto. As matas ciliares acompanhando os principais rios da região,
além de caminhos para os grupos indígenas pré-históricos, constituem e
constituíam corredores naturais de deslocamento da fauna, e nesses
locais a caça era abundante.
O
abrigo sob rocha no Sumidouro do Rio Quebra-Perna localiza-se em um
local com relevo estreitamente
controlado por estruturas geológicas (falhamentos, fraturas), que
favoreceram a formação de lapas e abrigos naturais. É possível que este
abrigo, em épocas remotas, tenha servido de acampamento temporário
para grupos indígenas pré-históricos, em rotas migratórias, que tinham
na caça uma de suas principais atividades de subsistência. Provavelmente
esses grupos encontravam no abrigo um bom local para pouso, proteção
contra as intempéries e um mirante para a observação da caça.
Conclusões
Os Campos
Gerais apresentam muitos sítios arqueológicos, representados
principalmente por abrigos naturais com pinturas rupestres, artefatos líticos
(pontas de flechas e lanças, raspadores, cortadores, moedores, etc.) e cerâmicos
(potes, urnas).
Dois fatores
parecem contribuir para esta profusão de sítios arqueológicos na região:
a existência de muitas lapas na área de ocorrência dos Arenitos da Formação
Furnas, cujas estruturas sedimentares e fraturas favorecem a formação de
tetos naturais; e o fato de a Escarpa Devoniana, que limita a região, representar
um obstáculo natural aos deslocamentos dos indígenas pré-históricos, que eram
assim obrigados a percorrer caminhos relativamente bem definidos, os passos
naturais, e a realizar pousos nas travessias dificultadas pelos
acidentes geográficos.
Embora sejam já
conhecidas ocorrências de sítios com artefatos líticos e cerâmicos, predominam
nos Campos Gerais lapas de pedra com pinturas rupestres. Elas têm sido atribuídas
a duas tradições culturais préhistóricas, a Tradição Geométrica e a
Tradição Planalto. A extensão geográfica destas tradições culturais é
relativamente bem definida, mas o significado das pinturas para os índios
que as elaboraram e o intervalo cronológico que representam ainda são muito
pouco conhecidos. Faltam estudos mais detalhados sobre este rico patrimônio
arqueológico, e o desconhecimento de seu valor pela população local tem
propiciado que muitos sítios tenham sofrido depredações irreversíveis.
Além
de possibilitar o desvendar dos povos que habitaram a região antes da chegada
dos colonizadores, cuja cultura pode nos trazer muito conhecimento tradicional
e muita riqueza subjetiva, o estudo dos sítios arqueológicos tem uma
importância insuspeita para a maioria da população atual: pode também apoiar
o reconhecimento da fauna, flora, clima e fenômenos naturais (astronômicos,
queimadas, etc.) das épocas pré-históricas, a compreensão de fatores
ambientais que forçavam os bandos indígenas a se deslocarem em busca de
alimento, a compreensão de fatores ambientais que determinavam a
localização dos sítios, seja pela posição estratégica em relação a aspectos
vitais (caça, água) ou aspectos de salubridade (insolação, posição em relação
aos ventos frios do sul, aos incêndios naturais, etc.). Ou seja, o
estudo dos sítios arqueológicos pode ser importantíssimo para reconstruções
paleoambientais e paleoclimáticas, que muito ajudariam no equacionamento
de modelos climáticos atuais, na escolha de técnicas e estratégias agrícolas,
e outras, harmonizadas com o meio natural.
Visto que o desconhecimento da importância do patrimônio
arqueológico tem acarretado inclusive sua destruição pela população
desinformada, várias medidas devem ser tomadas visando sua proteção: o
tombamento dos sítios como patrimônio arqueológico; o estudo científico
detalhado; a realização de campanha de divulgação de sua importância,
incluindo atividades na rede escolar; a criação de unidades de conservação
que incluam áreas da Escarpa Devoniana, onde os vestígios arqueológicos se
concentram na região dos Campos Gerais.
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Cómo citar este artículo:
Chagas Silva, Alessandro Giulliano; de Melo, Mário Sérgio y Parellada, Claudia Inês.
Pinturas rupestres em abrigo sob rocha no Sumidouro do rio
Quebra-Perna, Ponta Grossa, Paraná
En Rupestreweb, http://www.rupestreweb.info/abrigosumidouro.html
2014
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