A
fotografia nos procedimentos de documentãçao visual da arte rupestre
Adolfo Yuji Okuyama adolfookuyama@gmail.com
Bacharel em Arqueologia e Preservação Patrimonial pela Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF (2014); Rua João Ferreira dos Santos, S/N; Bairro Campestre; São Raimundo Nonato – PI; CEP: 64.770-000.
Nívia Paula Dias de Assis nivia.assis@univasf.edu.br
Licenciada em História pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI, 2004; Especialista em Educação, Cultura e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Piauí (UESPI, 2008); Mestre em História e Espaços pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN, 2012); Professora Assistente do Curso de Arqueologia e Preservação Patrimonial da UNIVASF.
Celito
Kestering celito.kestering@terra.com.br
Licenciado em Filosofia, Psicologia e Sociologia pela Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL (1974); bacharel em Agronomia pela Faculdade de Agronomia do Médio São Francisco – FAMESF (1980); mestre em História (2001) e doutor em Arqueologia (2007) pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE; Professor adjunto 4, no Colegiado do Curso de Arqueologia e Preservação Patrimonial da Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF. Rua João Ferreira dos Santos, S/N; Bairro Campestre; São Raimundo Nonato – PI; CEP: 64.770-000.
Ana Stela de Negreiros Oliveira anastelanegreiros@hotmail.com
Licenciada em História pela Universidade Federal do Piauí (UFPI,
1983); Mestre (2001) e doutora (2007) em História pela Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE); Funcionária DAS do Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (IPHAN).
ResumO
O presente trabalho tem o objetivo de analisar como a fotografia vem sendo utilizada nas pesquisas sobre arte rupestre. A popularização da fotografia digital e a rápida assimilação desta nos procedimentos de documentação visual em campo tornou esta atividade arqueológica mais prática e dinâmica. Porem uma das questões a serem abordadas é como o olhar do pesquisador seleciona os dados a serem registrados, assim como suas implicações como meio de ilustração que evidenciem teorias e resultados. Para isso, reviu-se a metodologia adotada para o levantamento fotográfico da arte rupestre por meio da análise de fotografias utilizadas na ilustração de trabalhos acadêmicos e propôs-se uma melhor definição do recorte escolhido para cada etapa da documentação de campo.
Palavras Chave: Arte rupestre, documentação visual, Fotografia.
ABSTRACT
This study aims to examine how photography has been used in research on rock art. The popularization of digital photography and the rapid assimilation procedures in this visual documentation in the field made ??this archaeological activity more practical and dynamic. However one of the issues to be addressed is how the gaze of the researcher selects the data to be recorded, as well as its implications by way of illustration that demonstrate theories and results. To do so, we reviewed the methodology adopted for the photographic survey of rock art through analysis of photographs used in the illustration of academic papers and proposed a better definition chosen for each step of the documentation of field crop.
Keywords: Rock art, visual documentation, photography.
INTRODUCCIÓN
Na história
da humanidade, a reprodução de imagens depende do contexto e da tecnologia
disponível. Por algum motivo que pode variar de uma simples vontade de
reproduzir elementos de seu cotidiano a complexos sistemas de comunicação, os
grupos pré-coloniais deixaram marcas conhecidas como arte rupestre no interior
de cavernas, em paredões rochosos ou nos leitos de rios. Esses sinais, por se
caracterizarem como atributos da identidade de seus autores, são objetos de estudo
da Arqueologia. No ato de registrar materializam-se e perpetuam-se as ideias e
as técnicas de realização dos grupos.
A Arqueologia,
enquanto ciência que procura respostas para os questionamentos acerca do homem
a partir da cultura material incorporou em seus métodos de pesquisa a
utilização de técnicas de reprodução visual. A documentação visual tem grande
relevância porque boa parte dos artefatos, quais sejam os registros rupestres,
está passível ao desaparecimento ao longo do tempo. É por isso que ela é
imprescindível para o seu estudo. Além disso, pesa o fato de que os registros
rupestres estão materializados em suportes rochosos fixos, impossibilitando a
mobilidade física a laboratórios para seu acondicionamento, como acontece com
artefatos líticos ou cerâmicos. Do mesmo modo, as possibilidades de acesso a
tais registros in situ são limitadas,
forçando o pesquisador a utilizar técnicas de reprodução imagética em campo a
fim de facilitar a sua análise e/ou divulgação.
Embora haja
inúmeras publicações sobre arte rupestre, sob diferentes perspectivas e
abordagens teóricas, chama particular atenção a escassez de trabalhos metodológicos voltados para a sua documentação ou levantamento, sobretudo em
âmbito nacional. Com este trabalho pretende-se, por isso, explorar o caso específico
da utilização da fotografia digital na documentação visual para o seu estudo.
Objetiva-se analisar como a fotografia vem sendo utilizada nos procedimentos de
campo. Entende-se que ela é, também, produto de uma interpretação. É influenciada
pela subjetividade do olhar de quem utiliza a câmera fotográfica. É a
materialidade de um ponto de vista pessoal, carregado de impressões fundamentadas
em pressupostos teóricos.
Como então,
elaborar uma metodologia de trabalho de campo que utilize a fotografia como
principal técnica de levantamento imagético, sem que o caráter fragmentário e
seletivo interfira na capacidade informativa que ela carrega? Como aproveitar
melhor os recursos do equipamento fotográfico para este fim?
2. POR
QUÉ DOCUMENTAR A ARTE RUPESTRE?
A arte rupestre é um vestígio
arqueológico que pode ser abordado de diversos aspectos, desde as
interpretações fantasiosas que povoam o imaginário popular até as sistemáticas
pesquisas científicas que as consideram fragmentos de um sistema de comunicação
visual de grupos pretéritos. Há estudiosos relacionados com as ciências exatas
como a Física e a Química que analisam a composição dos pigmentos e desenvolvem
técnicas para conservar ou retardar o desaparecimento da arte rupestre pela
ação dos agentes de intemperismo. Outros utilizam a arte rupestre para a
promoção do turismo, a utilização dos símbolos associados a logotipos ou mesmo
a ressignificação.
No âmbito da Arqueologia há referências
enraizadas na ética profissional. Elas estão relacionadas a políticas de
preservação e conservação do patrimônio arqueológico. São leis nacionais ou
cartas patrimoniais ou ainda manuais específicos voltados para a intervenção
direta ou indireta em artefatos ou sítios arqueológicos. No entanto, é característica
da arte rupestre estar materializada sobre suportes rochosos que impossibilitam
sua realocação para locais específicos, como laboratórios ou museus.
Independente dos cuidados e das práticas preventivas, elas estão passivas de
desaparecimento gradual. Muito embora se tenha um relativo conhecimento sobre
como os processos de intemperismo podem ser retardados, não há uma noção sobre
sua efetividade em longo prazo. A melhor forma de se preservar o registro
rupestre é, então, a sua documentação (LOENDORF, 2001).
2.1 Dificuldade
de acesso
De acordo com Prous (1991, p. 510):
Por
arte rupestre entendem-se todas as inscrições (pinturas e gravuras) deixadas
pelo homem em suportes fixos de pedra (parede de abrigos, grutas, matacões, etc.).
[...] Trata-se, portanto, de obras imobiliares, no sentido de que não podem ser
transportadas.
Devido a isso, exige-se do pesquisador,
um trabalho de campo exaustivo e dedicado na sua documentação, um levantamento
de dados, sobretudo imagético, que possa dar suporte às análises em
laboratório. Essa imobilidade do objeto de estudo, obriga o pesquisador a
retornos contínuos aos sítios caso haja necessidade de novas análises ou
aplicação de novas técnicas de estudo, ao contrário de outros vestígios que
podem ser transportados e analisados em laboratório como é o caso dos artefatos
líticos ou cerâmicos. Neste sentido, o pesquisador está sujeito às condições
impostas pelo sítio, sobretudo com relação à localização e ao acesso. As
considerações de Paul Bahn (1993, p. 40) sobre arte rupestre elucidam essa
questão:
[...]
Aqueles envolvidos precisam ser durões (a maior parte da arte se encontra em
cavernas profundas, montanhas altas ou áreas muito quentes). [...] muitos
lugares são quase inacessíveis: por exemplo, as cavernas tendem a conter
estalactites afiadas, fendas, águas profundas, guano, mosquitos e até, em
algumas partes do mundo, abelhas assassinas. Uma caverna em Dordogne,
piedosamente fechada ao público, se encontra abaixo do vilarejo de Domme e sempre
serviu como seu esgoto. A entrada é através de uma carvoeira no jardim dos
fundos de alguém, a caverna fede, e é sábio não examinar muito de perto as
substâncias viscosas pelas quais têm de se passar. Ocasionalmente, durante a
visita, outra carga é despejada de uma casa acima. O propósito da expedição é
ver um único e medíocre desenho de bisão da Idade do Gelo. Poucos especialistas
retornam para uma segunda visita.
Prous (1992, p. 513) descreve a
dificuldade no estudo dos sítios litorâneos de Santa Catarina onde “os painéis,
todos gravados e de acesso difícil, por vezes perigoso. Eles estão localizados
exclusivamente em ilhas, até quinze quilômetros distantes do continente, e se
orientam para o alto-mar”. O autor ainda cita as condições ambientais a que
estão submetidos os sítios amazônicos. Alguns deles localizam-se “nos rios
Cumina, Puri e Negro, onde as figuras são gravadas nas cachoeiras, únicos
locais onde a pedra aflora. Muitas são anualmente cobertas pelas enchentes”. Alguns
dos fatores atribuídos por Correa (2009, p. 123) para a escassez de trabalhos
no estado do Amazonas são justamente “os obstáculos gerados pelo período das
chuvas no estado, deixando submersos os afloramentos rochosos que possam conter
painéis com arte rupestre”.
Até mesmo áreas arqueológicas que hoje possuem
infraestrutura de visitação em seus sítios, assim como estradas internas de
fácil acesso e trabalhos constantes em sua manutenção como é o caso do Parque
Nacional Serra da Capivara, tiveram no início de seus estudos grandes
dificuldades de acesso. De acordo com Buco (2012, p. 138-139 apud Okuyama, 2014),
a primeira tentativa de Niède Guidon e Vilma Chiara chegarem até o Sudeste do
Piauí, em 1963, foi frustrada pelas más condições da rodovia e a queda de uma
ponte na cidade de Casa Nova – BA. A partir da década de 1970, com as
pesquisas realizadas pela Missão Franco Brasileira houve um impulso nas
pesquisas sistemáticas, com experiências metodológicas que provieram este campo
de instrumentos objetivos de estudo (PROUS, 1991). Hoje, o Parque Nacional Serra
da Capivara configura-se como área “onde as pesquisas sobre as pinturas
rupestres do Brasil foram mais intensas e continuas” (MARTIN 2011).
2.2 Fotografias
como forma de registro e referências para conservação
No âmbito da documentação e conservação
dos sítios com arte rupestre, o levantamento visual auxilia muito nas
intervenções realizadas diretamente sobre o objeto de estudo, invocando seu
caráter de “memória visual”, sobretudo quando se utilizam técnicas apropriadas
de fotografia. Richard Burton (1869 apud Etchevarne 2007, p. 20) ao descrever a arte rupestre identificada nas margens
do Rio São Francisco no Estado do Alagoas, relata que: “seria muito desejar-se
que todos esses antigos remanescentes fossem fotografados, antes de se
estragarem”. Ele deixa clara a preocupação e a noção da fragilidade da arte
rupestre e da utilização da fotografia como forma de registro, ainda que, de
maneira virtual, é assegurada através da imagem, a transmissão do conhecimento
acerca de determinado objeto ou estrutura. Neste sentido a documentação visual exerce
papel importante na função de preservação, transporte e divulgação. Pode-se
citar o caso da “descoberta” do Parque Nacional Serra da Capivara. As primeiras
informações sobre a arte rupestre da região foram veiculadas a partir de
fotografias amadoras que chegaram às cidades de São Paulo e Rio de Janeiro (BUCO
2012, p. 139 apud OKUYAMA, 2014).
A fotografia, de um modo geral, permite
“[...] registros de inegável clareza e verossimilhança, que lhe servem como
referência de tempos em tempos para confirmar pontos específicos ou até mesmo
realizar novas observações” (HACKING, 2012 p. 28). Neste sentido, a utilização
da imagem como referência para intervenções, pode ser notada nos trabalhos de
conservação de arte rupestre apontados por Lage, Borges e Rocha (2005):
Qualquer
intervenção prevista em um bem deve ser precedida de um estudo dos dados
disponíveis, sejam eles materiais, documentais ou outros. Qualquer
transformação do aspecto de um bem deve ser precedida da elaboração, por
profissionais, de documentos que perpetuem esse aspecto com exatidão (Carta de
Burra - Artigo 23º; Carta de Veneza – Artigo 16º e Anexo C da Carta do Restauro
de 1972).
Qualquer
ação de conservação a ser considerada deve ser objeto de uma proposta escrita
acompanhada de uma exposição de motivos que justifique as decisões tomadas, com
provas documentais de apoio (fotos, desenhos, amostras, etc.) (Carta de Burra
– Artigo 25º);
A
conservação dos sítios exige um acompanhamento permanente do seu estado de
conservação e dos agentes degradantes que podem atuar sobre ele (Ver Artigo 4º
da Carta de Veneza).
Esses pesquisadores descrevem os
procedimentos essenciais para a preservação da arte rupestre. Eles definem
elementos importantes que devem ser registrados na metodologia de conservação, quais
sejam: coloração da arte rupestre, fatores de degradação, intemperismo e
constituição do suporte rochoso. Segundo Gonzalez-Varas (2000, apud Barros 2009, p. 23), metodologias
de conservação em sítios com pintura rupestre envolvem, em um primeiro momento,
etapas de contextualização dos sítios arqueológicos que necessitarem de
intervenção. São necessários levantamentos fotográficos, inventários e
catálogos que registrem não só a arte rupestre em si, mas também seu entorno,
como a geologia, geomorfologia, vegetação, uma vez que, além de contextualizarem
o ambiente em que está inserido o sítio arqueológico, todos esses fatores
influenciam na ação dos diferentes tipos de intemperismo. Em um segundo
momento, há a necessidade de identificação dos agentes que deterioram
diretamente tanto o suporte rochoso quanto as próprias pinturas.
Em vista destas metodologias de
conservação de sítios com arte rupestre, é indispensável o uso da fotografia
que, em um levantamento imagético abrangente, pode oferecer importantes
informações para os estágios iniciais das pesquisas. Ao longo do tempo, essas
informações iniciais passam a compor a função de base comparativa para o estudo
da evolução tanto da degradação da arte rupestre, quanto dos efeitos gerados
pelas atividades de conservação.
3. TÉCNICAS PARA
DOCUMENTAÇÃO DE ARTE RUPESTRE
A
documentação visual é importante para o estudo da arte rupestre. Os vários
recursos utilizados, como desenho, decalque, fotografia e escaneamento tridimensional,
fornecem ao pesquisador informações visuais que possibilitam análises. Eles
auxiliam, também, na elaboração de artigos científicos e de trabalhos
acadêmicos, bem como na divulgação para o público não especializado, como o que
acontece em trabalhos de educação patrimonial, produção de cartilhas e
palestras.
O
registro de um sítio com pinturas rupestres pode integrar diários de campo,
fichas de dados, desenhos a mão livre, croquis, decalques, levantamentos
fotográficos e topográficos e registros de amostras específicas in situ. Para isso pode-se fazer uso de
microscópios eletrônicos, medições numéricas tradicionais com fita métrica,
escalímetro ou paquímetro, informações de cor, por meio de escalas
colorimétricas impressas como a escala IFRAO, Munseel ou colorímetros digitais.
O registro, entretanto, não para de ser construído ao se deixar o sítio.
Seguem-se etapas de laboratório onde são feitas as análises e processamento dos
resultados, possibilitando assim, reprocessamentos e reanálises por meios de recursos
diferentes. Tomando-se como referência as primeiras pesquisas sobre o registro
rupestre na área arqueológica do Parque Nacional Serra da Capivara e os
recentes trabalhos realizados, pode-se notar uma nítida diferença em termos de
documentação visual, sobretudo devido ao advento da fotografia digital e aos
processos computadorizados de tratamento de imagem.
Guidon
(1973, p. 118-119 apud Okuyama, 2014,
p. 17) descreve as primeiras etapas da pesquisa do registro rupestre da área
arqueológica de São Raimundo Nonato - PI:
Para o levantamento das pinturas foram utilizadas técnicas de decalque
e de fotografia. Ao mesmo tempo, realizou-se a análise das técnicas de
execução. O decalque, feito em folhas de plástico transparentes com pinceis
anatômicos, reproduziu fielmente o traçado e o preenchimento do interior das
figuras, assim como os acidentes mais importantes da rocha em que foram
pintadas [...]. O levantamento foi complementado com fotografias em branco e
preto e em cores, fotos com filmes infravermelhos ou filtros especiais foram
realizados nos casos de superposição, descoloração ou de cobertura das pinturas
com fumaça ou depósitos minerais. No estudo das técnicas de execução
determinaram-se as cores de cada figura, comparando-se com as "Munsell
Soil Color Charts", e descreveram-se as técnicas gráficas ou pictóricas
usadas nas representações [...].
O
decalque foi, durante muito tempo, utilizado como principal técnica de documentação.
A fotografia era, então, um recurso complementar. Em casos específicos,
utilizavam-se acessórios como filtros especiais, a carta de cor Munsell para
referências de cor e a descrição escrita de cada figura. Nos trabalhos recentes
sobre a arte rupestre do Parque Nacional Serra da Capivara faz-se o
levantamento imagético de campo com a utilização da fotografia digital apoiada
em softwares de tratamento de imagem (CISNEIROS, 2008; BUCO 2012; CASTRO 2009;
SOUZA 2009; CASTRO 2010; SANTOS 2010; MARTINS 2011 apud OKUYAMA, 2014, p. 18). Contudo, nos trabalhos de nível
acadêmico (monografias, dissertações e teses), é frequente a consulta ao acervo
imagético disponível da Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM). Desse
contraste na aplicação de metodologias, daquelas utilizadas nos anos 1970 com
relação às metodologias atuais, faz-se o seguinte questionamento: a fotografia
digital tem competência suficiente para a documentação visual de registros
rupestres?
3.1. Decalque
Com
a técnica do decalque reproduzem-se painéis rupestres em uma escala real. Ela força
o pesquisador a uma interação íntima com o objeto de estudo. Leva-o a experimentar
posições corporais provavelmente adotados pelos seus autores. Basicamente, essa
técnica consiste na superposição da arte rupestre com películas translúcidas ou
transparentes sobre as quais se realizam copias com a utilização de canetas. Às
vezes utilizam-se extensos rolos plásticos sustentados por madeira retirada do
entorno do sítio (Fig. 1).
|
Figura
1 – Utilização da técnica de decalque no Parque Nacional Serra da
Capivara.
Fonte: Neves (2012, p.
16 apud Okuyama, 2014, p. 19)
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Atualmente
os recursos materiais como películas específicas e os adesivos que não agridem
o suporte rochoso além de uma grande variedade de tipos de canetas permitem um
levantamento mais eficientemente controlado. O decalque é simples, barato e eficiente, além de ser
utilizado como principal técnica de levantamento por muitos estudiosos da arte
rupestre. É uma técnica amplamente difundida e ensinada em algumas instituições
de pesquisa (ABREU, 2012, p. 347) (Fig. 2).
Há
pesquisadores, porém, que consideram o decalque uma técnica totalmente
ultrapassada (MARTIN e GUIDON 2010, p. 27; PESSIS, 1992, p. 60, apud OKUYAMA,
2014, p. 21). A crítica sobre a técnica se faz, sobretudo, devido ao contato
direto da película com o suporte rochoso e os painéis rupestres o que é potencialmente
prejudicial aos grafismos em situações em que o estado da superfície apresente
estágios avançados de intemperismo.
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Figura
2 - Curso de levantamento de arte rupestre onde se ensina a técnica de decalque.
Fonte:
rupestre.net/trace apud Okuyama,
2014, p. 20)
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Outro
ponto questionável é a subjetividade do agente responsável pela atividade. Elementos
podem ser copiados erroneamente e outros ignorados devido a influências
interpretativas. Além disso, as condições de iluminação afetam diretamente na
percepção visual. É assim que alguns elementos da arte rupestre são notadas
apenas em determinadas ocasiões. Segundo Pessis (1992, p. 60),
Apesar dos cuidados que podem ser
tomados neste tipo de levantamento na procura de maior precisão, é inevitável a
introdução de distorções na morfologia dos grafismos, sem que se tenha em consideração
a quantidade de elementos gráficos que são excluídos por dificuldade de
percepção visual. [...] não é recomendável sua utilização pois as distorções
introduzidas não podem ser controladas o que é particularmente prejudicial
quando se trabalha com grafismos superpostos.
No
levantamento de campo realizado na Toca do Estevo III (BUCO, 2012, p. 6 apud
Okuyama, 2014, p. 21), nota-se a ausência de elementos da arte rupestre porque
eles foram realizados em cor amarela sobre um suporte rochoso de tom parecido.
Eles são, por isso, pouco perceptíveis ao olhar do pesquisador. Cisneiros
(2009, p. 245 apud Okuyama, 2014, p.
21) descreve a representação de um cervídeo com 20 cm de altura por 26 cm de
comprimento, com espessura da linha de contorno de aproximadamente 6 mm.
Observa que nela, apesar de clara e quase imperceptível, há ausência de
contorno ao longo das patas dianteiras e traseiras. Esses detalhes poderiam não
ser notados pelo pesquisador desavisado, enquanto realizasse a técnica de
decalque porque o plástico dificultaria o seu reconhecimento (Fig. 3).
|
Figura 3 - A) Levantamento de campo na
Toca do Estevo III - Parque Nacional Serra da Capivara.
B) Não se registrou a
figura do cervídeo em tom de amarelo.
Fontes:
Buco 2012, p. 6 e Cisneiros, 2009, p. 245 apud Okuyama, 2014, p. 22)
|
3.2 Fotografia
A
fotografia como principal técnica de levantamento e documentação de arte
rupestre foi rapidamente incorporada com a popularização das câmeras digitais.
Elas possibilitam a visualização imediata das figuras na fotografia, tornando o
procedimento prático e barato. Além disso, pode-se complementar as informações por
meio de fichas. Loendorf (2001) aponta que, ao utilizar a fotografia como
recurso técnico para o levantamento de arte rupestre, é necessário complementar
o procedimento por meio outros artifícios, como a produção de croquis que
possibilitem sua localização espacial. Há também a necessidade de utilização de
escalas fotográficas para referências de tamanhos, escalas colorimétricas para
referências de cor e fichas fotográficas. As possibilidades apontadas pelo
pesquisador para o levantamento fotográfico referem-se aos recursos analógicos.
Neste sentido a utilização de acessórios específicos possibilita a reprodução
de imagens em diversas perspectivas. Por exemplo, a utilização de filmes
fotográficos infravermelhos possibilita identificar superposições e cronologias
relativas, ou ainda descobrir o que estaria por baixo de agentes biológicos
como fundos e algas.
Apesar
de reproduzir com grande fidelidade o objeto de estudo, há, porém, a necessidade
de uma maior atenção do pesquisador quanto ao enquadramento, à luminosidade e aos
ângulos de visão, já que a limitação imposta pelo equipamento fotográfico pode
prejudicar o resultado final.
3.3 Fotogrametria
O
método de fotogrametria está ligado principalmente à reprodução imagética do
objeto de estudo em escala real (1:1) e nos três eixos da visão: comprimento,
largura e profundidade. A fotogrametria “é a arte, ciência e tecnologia de
obter informações de confiança sobre objetos e do meio ambiente com o uso de
processos de registro, medições e interpretações das imagens fotográficas
[...]” (TEMBA 2000, p. 3, apud OKUYAMA, 2014, p. 24). É então, uma técnica de mensuração através de imagens. A
mais conhecida é a fotogrametria aérea, utilizada para desenvolver cartas
topográficas com curvas de nível.
Apesar
da sua aparente relação com a tecnologia digital, o método tridimensional para
a documentação de arte rupestre foi proposta há muitos anos. Atkison (1968 apud Chandler et al, 2005, p. 120) documentou uma pequena gravura em Stonehenge
(Reino Unido) com um sistema de câmeras estéreo-métricas (1) produzindo curvas de nível manualmente. Ogleby e Rivett (1985, apud Okuyama,
2014, p. 24) (2) demostraram as vantagens do registro fotogramétrico, tanto em gravuras quanto
em pinturas em sítios arqueológicos da Austrália.
1. Estereoscopia se refere ao efeito produzido através de dois pares
de fotografias com pontos de vistas diferentes os quais criam um efeito
tridimensional CHANDLER (2005, p. 120)
2. CHANDLER (2005, p 120) |
Loendorf
(2001, p. 71) descreve, de maneira geral, como o levantamento fotogramétrico de
arte rupestre pode ser feito, com a utilização de um par estereoscópico de
fotografias. Com ele podem-se fazer desenhos de linhas de altimetria da
superfície da rocha assim como da arte rupestre nela contida. Segundo o autor,
um par de estéreo-fotografias é visto através de um estereoscópico, o que
significa uma vista de uma fotografia para cada olho, criando assim uma imagem
tridimensional. No entanto, a restrita utilização dessa técnica para a
documentação de arte rupestre pode estar relacionada com a necessidade de um
conhecimento técnico sobre o processo de levantamento imagético, além de
equipamentos específicos, como estereoscópios, câmeras e lentes especiais assim
como tripés adaptados.
A
técnica da fotogrametria foi incorporada também à popularização da fotografia
digital. Chandler et al. (2005, p. 131-139), demonstraram como
câmeras digitais, combinadas como softwares de fotogrametria apropriados e
acessíveis são capazes de gerar uma documentação precisa e densa da arte
rupestre, utilizando uma técnica quase automática semelhante à estereoscopia.
Outra
técnica de fotogrametria consiste na utilização de scanner-laser. Esse
equipamento possibilita a criação de modelos tridimensionais de alta precisão e
tem mostrado grande potencial para o registro de arte rupestre particularmente
quando combinados com imagens bidimensionais. El-hakim et al (2004 apud Trinks et al. 2005, p. 131)
utilizaram dados tridimensionais de um scanner-laser com um dado bidimensional
obtido de uma câmera digital simples para gerar um modelo virtual de um painel de
arte rupestre aborígene no sítio N.S.W, Austrália (Fig. 4 e 5). Segundo Trinks et al., (2005, p. 132)
O escaneamento 3D é baseado em uma fonte
luminosa a laser o qual emite um pulso de laser que é então refletido por uma superfície.
O scanner laser calcula então a distância do ponto refletido por medições
distancia-tempo do pulso de luz [...] é possível então, determinar a
coordenadas relativas nos eixos XYZ. Estas coordenadas relativas podem ser
convertidas em coordenadas absolutas através de geoferenciamento usando
medições diferenciais de GPS. Alguns scanners-laser trabalham em combinação com
uma câmera digital que registra valores de cor e assimila estas informações de
cor ao ponto dado, permitindo a criação de modelos digitais foto-realísticos. O
dado bruto obtido através do escaneamento a laser são as coordenadas xyz dos
pontos refletidos, a intensidade de reflexão e valores de cores, os quais são
associados através de softwares específicos e criado uma superfície
triangulada.
Mutzenberg
(2009, p. 21 apud Okuyama, 2014, p. 26) propôs a utilização de modelos
tridimensionais em sítios arqueológicos com pinturas rupestres. Sugeriu a
tecnologia da varredura a laser para a realização de análises espaciais do
suporte rochoso e dos painéis rupestres. Argumentou a sua utilização para a
verificação, monitoramento e detecção de áreas prioritárias de intervenções com
vistas à conservação do patrimônio arqueológico.
|
Figura
4 - Equipamento de escâner-laser.
Fonte:
Trinks et al. 2005, p. 132 apud Okuyama 2014, p. 25)
|
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Figura 5 - Processo de levantamento de
dados 3D. a) estado natural da arte rupestre, b) nuvens de pontos geradas a
partir da leitura do laser, c) superfície gerada a partir de curvas de nível.
d) produto final - superfície com aplicações de sombra. Fonte: Trinks et al. (2005,
p.133 apud Okuyama, 2014, p. 26)
|
Abreu
(2012, p. 360-361) aponta algumas desvantagens na utilização de imagens
tridimensionais desde o levantamento de dados até o seu processamento. Afirma ser
uma técnica cara e complicada porque demanda equipamentos específicos e pesados.
A isso se soma a necessidade de fontes de energia para o funcionamento do
aparelho e pessoas treinadas para realizar tanto o levantamento como a etapa
laboratorial. Para a autora, apesar de se ter um objeto tridimensional que pode
ser movimentado e, por conseguinte, visto em ângulos variados e em escala real,
a qualidade da imagem no que se refere à textura da rocha e coloração ainda não
atinge uma fidelidade satisfatória.
4. FOTOGRAFIAS E CÂMERAS FOTOGRÁFICAS
Embora
existam inúmeras publicações sobre o assunto, de uma forma geral os manuais de
fotografia digital possuem conteúdos e conceitos similares. Neste trabalho,
utilizam-se os conceitos utilizados por RAMALHO (2004), MORAZ (2008) e LANGFORD
et al. (2011 apud OKUYAMA, 2014, p.
27). Atualmente, existe no mercado, uma infinidade de câmeras fotográficas
digitais. Oferecem-se diversos tipos de equipamentos, com variações no tamanho,
na forma, na cor, na resolução de imagem e nos preços.
O
processo de captura de imagem e o mecanismo da câmera fotográfica digital são
semelhantes ao da analógica. A maior diferença está no modo de registro da
imagem. Ao invés da utilização de filmes fotográficos, nas câmeras digitais a
informação é capturada por meio de células fotossensíveis conhecidas como
Charged Coupled Device (CCD), que digitalizam as informações luminosas de
acordo com as configurações escolhidas pelo fotógrafo e as armazena em
dispositivos magnéticos, como os cartões de memória.
Existem
três tipos de câmeras digitais: as automáticas, as semiprofissionais e as profissionais,
conhecidas como DLSR ou Reflex (3).
Cada uma responde a necessidades diferentes e possui limitações e vantagens nos
recursos que disponibiliza. As câmeras automáticas ou compactas são pequenas e
de fácil utilização com uma boa relação entre custo e benefício. Em geral
possuem limitações quanto aos recursos, impossibilitando ao fotógrafo o controle
sobre a fotografia. Apesar de não terem o status das câmeras fotográficas
profissionais, as câmeras automáticas não necessariamente possuem um padrão inferior
de qualidade. Suas maiores desvantagens são: falta de resistência, ausência de
lentes específicas e menor qualidade ótica (Fig. 6).
3.
Câmeras Reflex Monobjetivas Digitais usam um prisma e um jogo de
espelhos internos para captura da imagem, além de permitirem o intercâmbio de
lentes e filtros. |
As câmeras semiprofissionais permitem uma maior autonomia do
fotógrafo porque podem ser utilizadas em modo manual. Sua estrutura possibilita
controlar alguns recursos como velocidade e abertura do diafragma. Ainda que
possua uma lente fixa, ela tem grande capacidade de zoom (Fig. 7).
As
câmeras digitais profissionais, DSLR ou Reflex são caracterizadas pela
utilização do sistema Single Lens Reflex. A luz que entra através da lente é
refletida por um conjunto de espelhos e transferida para o visor. A imagem que
é vista pelo fotografo é idêntica à real. Neste sentido, a utilização de
diferentes tipos de lente possibilita ao fotografo, uma adaptação a diferentes
situações (Fig. 8).
4.1 Diafragma,
obturador e objetiva
Com
relação à fotografia profissional, o conhecimento sobre os mecanismos de
diafragma, obturador e objetivas é fundamental para a captura de uma boa
imagem. Apesar da inovação tecnológica no âmbito da fotografia digital, os
conceitos desses três elementos são derivados da fotografia analógica e suas
utilizações não sofreram variações (Fig. 9).
O diafragma regula a abertura do sistema ótico para a
passagem da luz pela objetiva e possui uma escala universal. Quanto maior o
valor (f) do diafragma, menor será a entrada de luz e, inversamente, quanto
menor o valor (f), maior a entrada de luz (Fig. 10). A abertura do diafragma
tem influência na profundidade de campo. Quanto maior a abertura do
dispositivo, menor será a profundidade de campo, e quanto menor a abertura,
maior será a profundidade de campo, consequentemente será produzida uma fotografia
com mais detalhes nítidos (RAMALHO (2004, p. 58 e MORAZ, 2008, p. 34 apud OKUYAMA, 2014, p. 31) (Fig. 11).
O
obturador controla o tempo de exposição das células fotossensíveis à entrada de
luz. Um maior tempo de exposição significa que o obturador estará mais tempo
aberto à entrada de luz e quanto menor a exposição, menor será o tempo (Fig.
12). Esse controle afina-se com o diafragma. As variações na abertura (f) são
compensadas pelo tempo de exposição definido pelo obturador. Controla-se essa
relação pela leitura do fotômetro (RAMALHO, 2004, p. 60 e MORAZ 2008, p. 34
apud OKUYAMA, 2014, p. 34).
|
Figura 12 - Relação
entre o obturador e o tempo de exposição. Fonte: Okuyama
(2014, p. 32).
|
Objetivas
são conjuntos de lentes com características diferentes de acordo com sua
milimetragem (mm). O principal efeito que essas diferenças produzem é a
variação no enquadramento da fotografia. As objetivas normais ou 50mm aproximam-se
ao olho humano. Elas capturam a imagem em um recorte de aproximadamente 46º graus.
A objetiva grande angular oferece uma visão mais ampla. Ela enquadra uma área
maior. É indicada para fotografias aéreas, paisagens e quando não se tem muito
espaço em relação a pequenos ambientes. As teleobjetivas são utilizadas para
fotografar a longa distância. Ela aproxima o máximo possível a visão do
fotografo em relação ao assunto fotografado (Fig. 13).
|
|
Há
também lentes especiais para fins específicos, como as objetivas zoom. Elas possibilitam
a variação da distância focal (ex: 18mm-200mm). Podem funcionar como grande
angular, objetiva normal ou teleobjetivas. Essa variação representa uma vantagem
na relação custo/benefício porque uma única lente possui a função de pelo menos
três outras.
As
objetivas macro possibilitam a focalização do assunto a pequenas distâncias.
Neste sentido, o fotógrafo reproduz detalhes do objeto a ser fotografado sem
que se perca a resolução da imagem (Fig. 14). RAMALHO (2004, p. 57) MORAZ (2008, p. 46) LANGFORD et all (2011, p. 71) apud OKUYAMA, 2014, p. 35.
|
Figura 14 - Exemplo de registro de detalhes com lente macro
A) Normal
50mm, B) Macro. Fonte: Adolfo Okuyama (2014, p. 37)
|
4.2 Definições
da imagem digital
Uma
fotografia ou imagem digital é a soma de uma sequência de algarismos
convertidos em pequenos quadrados chamados de pixel. Cada pixel contém
o registro numérico da intensidade da luz e da cor da imagem real convertida em
digital. A organização destes em linhas e colunas (x / y), constitui uma malha
de pixels, permitindo a reprodução da
imagem em meio virtual.
A
qualidade na visualização da fotografia depende de dois fatores. O primeiro se
refere ao tamanho da imagem em pixels.
Quanto maior a quantidade de pixels em uma imagem, maior será a quantidade de detalhes registrados, possibilitando
maiores aproximações ou ampliações.
O
outro fator é a resolução. Uma relação entre o número de pixels é o tamanho expresso em centímetros ou polegadas da imagem.
Refere-se à quantidade de pontos impressos em cada centímetro quadrado (dpi ou
ppi) (Fig. 15). RAMALHO (2004, p. 11-17) MORAZ (2008, p. 11-13), apud OKUYAMA, 2014, p. 38).
O arquivo fotográfico pode ser armazenado nos cartões de
memória em diversos formatos ou extensões. Cada um possui características que
influem na sua utilização. Os formatos mais conhecidos são: GIF (Graphic
Interface), JPEG (Joint Phographic Experts Groups) e o TIFF (Tagged Image File
Format) RAMALHO (2004, p. 116), LANGFORD et
all (2011, p. 27) apud OKUYAMA,
(2014, p. 38)
Os formatos GIF são capazes de armazenar apenas 256 cores. É
um arquivo pequeno e de leve transferência. Devido ao seu tamanho é bastante
utilizado em páginas da Internet. Os arquivos com a extensão JPEG são o formato
mais utilizado e popular em câmeras digitais devido à relação “qualidade de
imagem” x “tamanho da imagem”. Eles podem reproduzir até 16,8 milhões de cores,
sem, no entanto, produzir um arquivo grande e pesado. Possibilitam uma leitura
mais rápida e ocupam menos espaço no seu armazenamento. A qualidade final da
imagem, porém, é pequena uma vez que são suprimidos alguns elementos da
variação de cor que é conhecido como “compressão”. Na compressão da imagem, são
eliminadas informações irrelevantes aos olhos humanos como, por exemplo, uma
variação de tons dentro de uma sombra, a qual é substituída pelo preto. Outra
desvantagem é que esta perda de dados é progressiva cada vez que a imagem é
editada e salva.
|
Figura 15 - Relação entre
tamanho de imagem e resolução. Fonte: Okuyama (2014, p. 39)
|
Por
sua vez, o formato TIFF possibilita o gerenciamento de imagens com alta
qualidade, uma vez que o mesmo é armazenado, ao contrário do JPEG, sem
apresentar perdas de informações. Esta característica permite que na imagem
sejam registradas cores mais realistas e fiéis. Devido a esta capacidade, o
arquivo produzido ocupa um volume grande ao ser salvo, e sua leitura e edição
são mais lentas. É necessária, para isso, maior atenção com relação ao espaço
no dispositivo de armazenamento. Na documentação de arte rupestre, este formato
é ideal para levantamentos. No entanto o registro de uma grande quantidade de
imagens pode tornar a escolha inviável se o problema do armazenamento não for
previamente resolvido, como a utilização de cartões de memória com uma
capacidade maior, ou a possibilidade de se fazer back-ups em campo, ou a transferência de dados para outros locais,
como computadores e hd’s portáteis.
|
Figura 16 - Relação entre
qualidade de imagem e formato de arquivo fotográfico.
Fonte: Okuyama (2014, p. 41)
|
4.3 A
construção da imagem fotográfica
Existem
diversas técnicas para se realizar uma documentação visual de sítios com
pinturas rupestres. A popularização da fotografia digital e as configurações de
fábrica previamente programadas facilitaram a sua utilização. Não se necessita de
um profundo conhecimento técnico/teórico do funcionamento do equipamento para
assimilar a câmera fotografia digital como um dos principais recursos de
documentação no âmbito da pesquisa.
A
disponibilidade de um grande número de imagens contabilizadas em bytes em contraste com as limitadas poses dos filmes fotográficos analógicos
fez com que a captura da imagem se tornasse menos seletiva. O ato de fotografar
tornou-se algo mais comum e de fácil execução, onde o produto pode ser visto em
sequência. Segundo Kozzoy (1989, p. 23), três componentes são fundamentais para
a produção da fotografia: o assunto, o fotógrafo e a tecnologia. Esses três
elementos de criação da imagem fotográfica são constituídos de um processo que começa com a escolha do
fotógrafo que, a partir do visor da câmera fotográfica, enquadra uma cena em um
determinado espaço e tempo (Fig. 17). Para o autor, o fotógrafo pode ser
definido como um filtro cultural porque ele escolhe um aspecto determinado do
mundo real, isto é:
(...) selecionando do real, com seu
respectivo tratamento estético, a preocupação na organização visual dos
detalhes que compõem o assunto, bem como a exploração dos recursos oferecidos
pela tecnologia: todos são fatores que influirão decisivamente no resultado
final e configuram a atuação do fotógrafo enquanto filtro cultural.
|
Figura
17
- O ato do registro fotográfico.
Fonte: Kossoy (1989, p. 25 apud Okuyama, p. 43), adaptado pelos
autores |
Relacionando os elementos constitutivos da construção da
imagem fotográfica definidos por Kossoy ao âmbito da pesquisa da arte rupestre,
tem-se: o assunto cujo tema é a
própria arte rupestre que é uma representação estática de um artefato; o fotografo cujas referências teóricas
e metodológicas direcionam o olhar a diferentes perspectivas que se refletem no
produto final; a tecnologia das câmeras
digitais cujas configurações automáticas eliminam as escolhas técnicas do
pesquisador enquanto fotógrafo e registram apenas o que foi selecionado por
ele.
A
esse caráter fragmentário da fotografia, Philippe Dubois (1990 apud Leite 2005, p. 34), chama atenção
para a existência de uma dualidade quanto a sua representação. O conteúdo pode
ser interpretado como manifesto, evidente ao que o fotógrafo quis representar,
ou latente e passível de interpretações em diferentes perspectivas:
A câmara funciona como uma extensão do
olhar. Mas o olhar, que é também seletivo, funciona ao mesmo tempo em que os
outros sentidos e dentro de um contexto espacial outros aspectos. A câmera
produzirá a imagem, talvez, mais precisa e mais ampla que o olhar, mas despida
de outros aspectos e características, o que, em alguns casos, pode limitar o
seu valor documental. O que ficou registrado pode não ser o que se quer
produzir.
Neste
sentido, a escolha da fotografia como principal ferramenta de documentação
visual na arte rupestre necessita que um procedimento em campo que seja capaz
de superar a arbitrariedade do olhar do pesquisador. Deve-se atentar para que
as fotografias se tornem fontes de informações que se aproximem ao máximo da
realidade. Um procedimento que possibilita uma documentação fotográfica
abrangente e de fácil compreensão consiste em sequências fotográficas em que se
registre uma visão geral até se chegar aos pequenos detalhes. Esse trajeto assemelha-se ao recurso de
“zoom” utilizado na esfera cinematográfica e é definido por Gonzalez (1993 apud Manini 2005, p. 245) como um
processo fotográfico elaborado tal como a lógica da “boneca russa: dentro de uma imagem há outra, que
contém outra, que guarda outra...” (Fig. 18). Essas sequências fotográficas
permitem registrar detalhes ou elementos particulares sem que se perca a
relação destes com o contexto.
Para
a utilização da fotografia em trabalhos de levantamento de arte rupestre Pessis
(1992, p. 60) sugere uma sistemática de quatro etapas:
1) um primeiro registro da totalidade do
sítio; 2) logo o registro do espaço pictural dentro do sítio para delimitar
claramente o começo e o fim da área pintada; 3) seguidamente o registro dos
painéis de levantamento, que são as unidades segregadas segundo critério de
conveniência para esta documentação fotográfica; e finalmente, 4) o registro
dos detalhes dos painéis que se estimem pertinentes para cobrir toda a
documentação visual. Este registro fotográfico será feito com indicação de
escala e recomenda-se triplicar as tomadas fotográficas.
|
Figura
18 - Analogia de Gonzalez para sequências fotográficas com níveis de
aproximação.
Fonte: Manini (2005, p. 245)
|
Assim
se captura a arte rupestre com elementos que fazem parte do contexto do sítio
como a unidade geológica e geomorfológica, elementos faunísticos e florísticos
e os agentes de intemperismo que agem sobre ele. Cada imagem fornece
informações que se somam, possibilitando a quem recebe as fotografias, um
panorama geral do estado em que se encontra o sítio arqueológico no momento do
registro (Fig. 19).
|
Figura
19 - Sequência fotográfica para
levantamento imagético de sítios com arte rupestre.
Fonte: Pessis (1992, p. 60)
|
Embora
o recurso fotográfico não apresente o mesmo fluxo de informação do vídeo, onde
entre cada fotografia produzida há um intervalo mínimo de tempo, a função da
fotografia como um dado de pesquisa não é apenas ilustrar:
[...] é portador
de dados e, como tal, passa a ser um dispositivo da pesquisa, do mesmo tipo dos
registros escritos. O que muda é a maneira de trabalhar com eles para se obter
o máximo de informações complementares no processo de investigação (PESSIS,
2000, p. 14).
[...] planos
muitos aproximados, detalhes do sítio, mas é igualmente importante, situar
estes elementos ao conjunto ao qual pertencem, adotando o plano geral, para que
o espectador se encontre em condições de localizar, precisamente o detalhe
apresentado (PESSIS, 2000, p. 41).
E
ainda com relação a casos específicos de sítios com pinturas rupestres, são
indicadas sequências de registros em que uma “[...] pluralidade dos pontos de
observação permite oferecer, sucessiva e progressivamente, em diferentes pontos
de vista, estas pinturas, para serem examinadas” (PESSIS, 2000, p. 68).
5. FOTOGRAFIAS
EM TRABALHOS ACADÊMICOS
Cada
sítio arqueológico possui realidades distintas, localizações, e que implicam,
em alguns casos, na impossibilidade de aplicação dos procedimentos de
levantamento fotográfico em sua totalidade. Cabe ao pesquisador, então,
encontrar o melhor posicionamento para a realização da fotografia. Para esta
análise utilizaram-se produções monográficas para identificar procedimentos
utilizados por cada pesquisador. Delimitou-se como objeto de estudo os
trabalhos cujo tema central foi a arte rupestre da Toca da Entrada do Baixão da
Vaca, no do Parque Nacional Serra da Capivara. Esses trabalhos monográficos são
parte das continuas pesquisas desenvolvidas na região Sudeste do Piauí. Embora
exista na Fundação Museu do Homem Americano um extenso banco de dados
imagéticos, com diferentes técnicas de levantamento de arte rupestre, a
metodologia adotada em cada monografia propõe novas etapas de levantamentos
imagéticos em campo. Essas foram baseadas na fotografia digital, possibilitando
assim uma comparação das fotografias sob a percepção visual dos diferentes
autores. Para isso, foram consideradas as fotografias utilizadas para
ilustração no texto, julgando serem essas as mais representativas. Os trabalhos
utilizados foram: Castro (2009), Castro (2010), Barros (2010) e Martins (2011).
Dividem-se
estes trabalhos em dois grupos: o primeiro refere-se à busca de padrões em
determinados elementos da arte rupestre. No caso em questão estes elementos definem-se
como “cenas de caça” (Castro 2009), “de sexo” (Castro 2010) e “da arvore”
(Martins 2011). O outro tema volta-se para o estudo de conservação e
preservação das pinturas rupestres: diagnóstico do estado de preservação
(Barros 2010).
A
metodologia de levantamento fotográfico utilizada por Castro (2009) e Castro
(2010), emprega o procedimento de quatro etapas, proposto por Pessis (1992). No
entanto, os resultados do levantamento realizado não foram incorporados ao
corpo do texto. No primeiro caso, os resultados foram divulgados por meio de
decalques digitais realizados sobre a fotografia. Eles representam apenas a
etapa de levantamento fotográfico correspondente ao nível de detalhes. No
segundo caso, as fotografias utilizadas para ilustração textual correspondem às
etapas 1 e 4 do procedimento proposto. Incorporam-se ao texto as fotografias
produzidas para o contexto geral do sítio e as de detalhes correspondentes à
cena, em conjunto com o decalque digital da mesma. Nestes dois casos, a
totalidade do levantamento fotográfico realizado foi utilizada como suporte à
pesquisa, deixando a ilustração textual a cargo de outros recursos gráficos
(Fig. 20 e 21).
|
Figura
20 - Vista geral do sitio Toca da Entrada do Baixão da Vaca. Fonte: CASTRO (2010, p. 50) |
|
Figura 21
- Fotografia de detalhe - ilustrando o
objeto de estudo. Fonte: Castro (2010, p. 51)
|
Para
o levantamento fotográfico realizado em sua pesquisa, Martins (2011, p. 23), aponta
que nessa etapa “selecionou-se as imagens que contextualizassem o tema da
pesquisa”. Neste sentido, fica subentendido a produção de fotografias
consideradas “vistas gerais”. Descreve ainda os equipamentos utilizados, porém
não as situações necessárias para o seu uso. Cita, por exemplo, a utilização
das câmeras fotográficas FUJI S3300 e NIKON Coolpix L120, ambas
semiprofissionais com a mesma resolução de 14mp sem discriminar as tomadas
fotográficas que fez com cada uma delas. Observa-se que a utilização das
fotografias produzidas no levantamento de campo se deu em três ocasiões.
Fizeram-se fotografias do sítio arqueológico, de detalhes do objeto de estudo e
outras para exemplificar os diferentes tipos de árvores para inferências
comparativas e, em anexo, as “cenas da arvore” completas (Fig. 22 a 24).
No âmbito da preservação e conservação dos
sítios com arte rupestre, Barros (2010), utilizou o levantamento fotográfico
para “[...] o registro dos sítios arqueológicos e dos agentes destrutivos
identificados em cada um deles”. Também nesse trabalho, a fotografia do contexto foi seguida pelo
registro dos agentes destrutivos. A função atribuída à fotografia foi de “expor
e comprovar a existência dos agentes destrutivos identificados com a aplicação
do protocolo investigativo”. Neste sentido a pesquisadora utilizou a fotografia
para complementar os apontamentos descritos em seus protocolos.
|
Figura 22 - Vista do sitio
Toca da Entrada do Baixão da Vaca. Fonte: Martins
(2011, p. 37)
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|
Figura 23 -
Fotografia de detalhe do objeto de estudo associado a decalque digital.
Fonte: Martins (2011,
p. 37)
|
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Figura 24 - Fotografia em anexo apresentando a cena
completa. Fonte: Martins (2011,
p. 75)
|
As
fotografias apresentadas no corpo do texto de Barros (2010) representam três
níveis de informação. O primeiro refere-se ao sítio arqueológico e seu
contexto, ou seja, “vista geral”. O segundo nível, embora não aplicado em todas
as ocasiões, são fotografias de áreas específicas do sítio em que se identificam
os agentes de intemperismo. Por último, apresenta-se o próprio agente de
intemperismo. Assim, tem-se um procedimento semelhante àquele utilizado para a
documentação da arte rupestre. Outra função da fotografia produzida pela
pesquisadora foi comparar a situação em que foi realizado o levantamento em
questão e outros levantamentos realizados anteriormente (Fig. 25 a 27).
Percebe-se
que a utilização da fotografia para a apresentação dos resultados limita-se a
duas condições: a primeira é apresentar o contexto geral do sítio arqueológico
e a segunda, ilustrar o objeto específico de estudo. Essas últimas são
fotografias de enquadramento fechado no tema abordado – ou seja, abrangem
elementos específicos do trabalho. Transmitem, assim, a impressão, objetividade
e argumentação. A não utilização de outras fotografias não significa, no
entanto, que foram produzidas ou não tiveram um papel importante nas análises
laboratoriais. A apresentação de apenas duas opções de visualização por meio da
fotografia implica, porém, em uma quebra no entendimento do contexto.
5.1 Vista
geral do sítio
A
vista geral mostra o sítio inserido no seu contexto ambiental. Neste sentido, a
fotografia deve ser feita de fora do sítio para informar aspectos geomorfológicos,
geológicos, da vegetação, o tipo de sítio e sua posição no relevo. Informam-se,
também, as condições climáticas no dia da atividade de campo que podem
influenciar diretamente na documentação da arte rupestre, como a presença de
nuvens no céu que diminuem a incidência de luz. Uma possibilidade ao se fazer o
registro da vista geral é buscar posições elevadas assim como uma distância
maior com relação ao sítio. A utilização de objetiva grande angular (ou zoom)
possibilita a captura de um amplo espaço do sítio no seu contexto (Fig. 28).
Pelas
fotos percebe-se que a Toca da Entrada do Baixão da Vaca caracteriza-se como um
abrigo sob rocha, localizado em alta vertente. A grande extensão do sítio e a sua altitude dificulta a
realização de um registro de vista geral diferente daquelas apresentadas.
|
Figura
28 - Vista geral do sítio Toca da
Entrada do Baixão da Vaca no seu contexto.
Fonte: Okuyama (2014, p. 56)
|
Outra
opção é a utilização de fotografias panorâmicas. Adotando o mesmo
posicionamento utilizado por Castro (2010) e Barros (2010), uma fotografia
panorâmica aumenta a percepção do leitor para a realidade do sítio (Fig. 29).
|
Figura
29 - Vista geral panorâmica do
sitio Toca da Entrada do Baixão da Vaca.
Fonte: Okuyama (2014, p. 56)
|
5.2 Fotografia
do espaço pictórico do sítio
Com
fotografias do espaço pictórico, propõe-se apresentar a disposição da arte
rupestre dentro do sítio arqueológico, ou as áreas escolhidas para a confecção
desta. Os painéis podem aparecer em diversas partes do suporte rochoso. A
presença de pessoas, neste caso, possibilita que se transmita uma noção de
escala.
Essas
fotografias são importantes para indicar onde determinados elementos estão em
relação a outros como posição, inclinação e altura em relação à superfície
atual. Nessas fotografias podem-se localizar os painéis de arte rupestre
(SANTOS, 2011, apud OKUYAMA, 2014, p. 57). O autor utilizou a opção de
fotografia panorâmica para registrar a totalidade do espaço pictórico indicando
posteriormente por meio de recursos gráficos a composição de cada painel (Fig.
30).
|
Figura
30 - Fotografia do espaço pictórico do sitio Toca da Gamela associado a
decalques
digitais que apresentam os painéis de arte rupestre. Fonte: Santos (2011
p. 47)
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Pode-se registrar a totalidade do espaço pictórico de
diversas maneiras. Deve-se, porém, manter elementos em comum que podem ser
identificados nas diferentes fotografias, oferecendo assim, uma noção do espaço
geral. A fotografia do espaço pictórico pode ser, quando possível, um recorte
da vista geral, ou fotografias panorâmicas produzidas para este fim. Neste último
caso, a utilização de lentes teleobjetivas ajuda a cobrir a distância que
separa o pesquisador do sítio arqueológico (Fig. 31 e 32).
|
Figura 31 - Recorte onde pode
ser indicado o espaço pictórico da Toca da Entrada
do Baixão da Vaca. Fonte: Okuyama (2014, p. 58)
|
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Figura
32
- Panorâmica do espaço pictórico da Toca
da Entrada do Baixão da Vaca e a sua
relação com o entorno. Fonte: Okuyama (2014, p. 58)
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5.3 Fotografia
de painel
Segundo
Kestering (2007 apud CASTRO 2009, p.
39), “painel é um conjunto de grafismos segregado a partir de critério
arbitrário. É uma pequena porção da atividade realizada em minutos ou milênios,
por um mesmo ou por diferentes grupos pré-históricos”. Esse critério pode ser
decorrente da morfologia da rocha suporte, fraturas, ou áreas de concentração
como utilizado em Santos (2011). Souza (1997 p. 91) define como um “conjunto de representações rupestres
podendo constituir-se numa cena ou não”. Define cena como um “conjunto de
motivos que transmitem ideia mais ampla que a identificação de cada motivo
isolado”.
Para
que a fotografia do painel seja bem definida, é importante que esteja bem
centralizada, possibilitando perceber através da imagem os elementos que o
definem. Neste nível de aproximação, e por ser um enquadramento mais fechado, a
utilização de escalas fotográficas se torna importante, oferecendo ao leitor a
noção de tamanho (Fig. 33).
|
Figura 33 - Fotografia de
painel delimitado por concentração de arte rupestre na Toca da
Entrada do
Baixão da Vaca. Fonte: Okuyama (2014,
p. 59)
|
Para
evitar grandes distorções na fotografia, o posicionamento do pesquisador deve
ser paralelo em relação ao painel. Nessas ocasiões, a utilização de tripés oferece
maior estabilidade à câmera. Acessórios como disparadores externos possibilitam
que a fotografia seja tirada sem que o pesquisador tenha contato com a câmera.
Outra opção é a programação do timer da câmera para que o disparo seja
automático, evitando possíveis movimentações que comprometam a nitidez da
imagem.
As
objetivas podem variar. As de 50 mm são indicadas para melhor enquadramento da
imagem. Elas ou as objetivas com zoom oferecem ao leitor a mesma visão do
pesquisador. Nelas o enquadramento é feito de acordo com a distância do
equipamento em relação ao painel (Fig. 34).
|
Figura 34 - Posicionamento do equipamento
fotográfico paralelo ao painel de arte rupestre.
Fonte: Okuyama (2014, p. 60)
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5.4 Fotografias de detalhe
Uma
das características das fotografias macro é a pouca profundidade de campo. O
objeto fotografado aparece nítido, sempre em primeiro plano, enquanto o
restante da imagem é desfocado. Para evitar a perda de informações, recomenda-se
a utilização de pequenas aberturas (f) do diafragma. É indispensável o apoio do
tripé para dar suporte à câmera já que, ao optar pela abertura menor do
diafragma, é necessário compensar com um maior tempo de exposição (Fig. 35 e 36).
|
Figura
35 - Fotografia macro de elementos
da arte rupestre da Toca da Entrada do Baixão da Vaca.
Fonte: Okuyama (2014, p. 61)
|
6. CONSIDERAÇÕES
FINAIS
A
Arqueologia é multidisciplinar no campo teórico e metodológico. Por estudar as
diversas faces da cultura material produzida pelo homem, tem a necessidade de
reproduzir imageticamente seu objeto de estudo, para fins acadêmicos, como
forma de se comprovar o que é dito textualmente, ou para facilitar o
entendimento do público não especializado. A imagem é, assim, um argumento. No
caso específico da arte rupestre, a impossibilidade de se transportar e
realocar o objeto de estudo para laboratórios ou museus, faz com que as
reproduções imagéticas sejam indispensáveis.
No
presente trabalho, procurou-se expor as diversas metodologias utilizadas para o
registro imagético documental da arte rupestre. Teceram-se comentários a
respeito de decalque, fotogrametria tridimensional e fotografia digital. Embora
a forma como o objeto é reproduzido seja o reflexo da corrente teórica do
arqueólogo, propõe-se uma sistemática para o trabalho de campo que aperfeiçoe a
fotografia digital como recurso para o levantamento imagético mais objetivo possível
da arte rupestre.
O
fato do crescente avanço das tecnologias de produção de câmeras fotográficas
digitais, da facilidade de acesso e aquisição destas no mercado, assim como a
facilidade na sua utilização em modos automáticos coloca em questão, não a
capacidade do arqueólogo como fotógrafo, mas como pesquisador. Além do mais, ao
trabalho arqueológico incorporam-se as ideias de preservação patrimonial e
salvaguarda dos artefatos. A fotografia digital é o melhor meio de preservá-los
por longo tempo.
Ainda
que, tecnicamente, a produção de uma fotografia digital não apresente grandes
variações quanto à evolução tecnológica, a utilização da câmera fotográfica
como ferramenta de pesquisa necessita de uma maior atenção enquanto recurso para
levantamentos imagéticos de campo. O trabalho da documentação imagética da arte
rupestre se estende aos laboratórios, onde uma infinidade de recursos de edição
e análise de imagens pode ser aplicada. Fazem-se necessários, por isso,
trabalhos específicos que objetivem essa etapa da pesquisa.
—¿Preguntas,
comentarios? escriba a: rupestreweb@yahoogroups.com—
Cómo citar este artículo:
Yuji Okuyama, Adolfo; Dias de Assis, Nívia
Paula; Celito, Kestering y de Negreiros Oliveira, Ana
Stela. A fotografia nos procedimentos de documentãçao visual da arte rupestre.
En Rupestreweb, http://www.rupestreweb.info/fotografiaarterupestre.html
2014
REFERÊNCIAS
ABREU, Maria Emilia Pereira Simões. Rock-Art in Portugal: History, Methodology and Traditions. 2012. Vol I. 596f. Tese (Doutorado em Quaternário, Matérias e Culturas) – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real 2012.
BAHN, Paul. Tudo o Que Você Precisa Saber Sobre Arqueologia Para Nunca Passar Vergonha - Coleção Manual do Blefador. 1 ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 1993.
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